Revista da Academia Paraense de Letras 1954

?ll P.l:VISTA DÁ ACADEMIA PARAENSÉ DB LÉ'rRAS Placidiano Foi Abandónado Pelo Partido conto de JACQUES F LORES A história do Placidiano Serra ~ra igual à de todo brasileiro que deseja melhorar de vida, ouvindo o cântico da iàra, que é a política. Modesto taüeiro de "gaiolas", que viajam para o Amazonas, um dia êle 'ouviu numa barbearia a seguinte conversa. Dizia um .sujeito: - Quem? O Desiderio está bem de vida. Durante Q tempo em que trabalhou como encanador nunca -passou daquilo. Um dia, meteu– se na política. Instalou na barraca dêle um Pôsto Eleitoral e hoje está de flosô. Bom emprêgo, boas roupas, boas falas, o Desiderio é o manda-chuva lá no meu bairro. . . · - Não digo nada ca.ntra o Desiderio, mas a verdade é que, na vida, tudo depende de sorte - respondeu outro camarada. Placidiano foi p_ara casa pensando naquela conversa. "Sim, por– que eu não faço uma experiência? Estou cançado de trabalhar a bordo". De repente, surgiu à sua mente o Esperidião, conhecido por Costa Larga. O Esperidião era o maior político daquelas bandas. Fazia parte do Partido que tinha como um dos chefes o doutor Zeferino Lin~ P– onde servia como cabo eleitoral. - "Amanhã, sem falta, eu vou procurar o Esperidião. Digo-lhe que quero me alistar, que quero ser eleitor do Partido, do qual êle é um dos mais fortes elementos". Ficou pensando na frase: "Dos mais fortes elémentos". Pareci~ que já estava metido na política, fazendo discurso. O corneteiro de um batalhão próximo começou a tocar silêncio. Eram 22 horas. Placidiano, cabeceando de sôno, levantou-se do ban– quinho em ,que se achava sentado à P,.orta da barraca e foi dormir. • • • - - Doutor Zeferino, doutor Zeferino, aqui o nosso novo correli– gionário Placidiano S~rra·. .. - Oh! Muito prazer! Esta casa, sr. Placidiano,- não é minha nem sua, é nossa. Esteja à vontade . .. E, virando-&e para o Esperidião : - Não te esquece de anotar o número de pessôas da familia do nosso amigo; com as quais se poderá contar como eleitores. - O Partido, doutor, póde contar com umas vinte pessôas, gente minha, - clamou o Placidiano. - Muito bem! Estou vendo que o sr. é dos meus, é dos nossos. E dando-lhe umas palmadinhas nas costas : Eu também sou assim. Quanto mais eleitores, melhor. Nosso Partido precisa de força para vencer e, vencendo, tem um grande programa a realizar. Jamais se esquecerá daqueles que trabalharem por êle... Esta frase ficou can– tando nos ouvidos do Placidiano. Isso queria dizer que, uma vez ven– cedor o P artido, êle seria contemplado com um bom lugar, assim como aquele Desiderio, o tal da barbearia. .. Chega a fase ativa da propaganda ele itoral. Placidiano, empol– gado pela vitória certa, frequentava, diàriamente, a séde, que vivia cheia de corre ligionários. Deixou o emprêgo, abandonou a vida marí– tima . Só queria saber do movimento de eleitores, quantas pessôas haviam se alist ado. A don a Nâna, numa tina, lavando r oupa, era quem ganhava para o sustento da casa.

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