Revista da Academia Paraense de Letras 1954

'H REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE JJE LETRAS Não tenho ambições. Nem seria explicável que as ti– vesse agora, já avelhantado e valetudinário, quem não as teve no ardor da juventude. O que tenho, meu caro professor Me– cenas Rocha - e isso me põe de pé ! - é capacidade de so– frer, coragem silenciosa para aceitar e viver a minha vida, sempre resignado e contente de miin, sempre fortalecido pela Fé, porque entendo que cada um de nós tem a sorte que me– rece! Eu mereci a sorte· que tenho - e não me punge o re– morso de haver invejado aos que a tenham melhor ... Não me veja, pois, com qualquer relevo ou pretensão literária, nem me coloque por engano. fora do meu lugar; mas não me recuse, nunca, o incentivo ·da sua bôa vontade, e faça votos para que os Céus nos esclareçam, a todos nós, ensinando-nos .a acertar com a Verdade - a eterna Verdade ·- qúe foi sempre tão inocente e primitiva como a sabedoria popular". . As linhas que acabo de ler, e são 100% sinceras e exa– tas, valem pelo meu retrato psicológico. e poderiam ser subs– critas ainda hoje, tão .inalterados e nítidos permanecem os traços dêsse resumo autobiográfico. , Como se vê, Senhores da Academia Paraense de Le– tras, os meus caminhos, os soturnos e despovoados caminhos do meu voluntário isolamento e da minha obscuridade, não foram. jamais os largos e luminosos caminhos da notoriedade e da evidência acadêmica. Sempre vivi emparedado entre os muros da minha vida ignorada e anônima, em cuja soledade pude encontrar-me comigo e escrever " MOSAICOS", essa mensagem de emoção e simpâtia humana, endereçada aos simples e a todos os homens de bôa vontade . Perdoai, Senhores Acadêmicos e. benévolo auditório, a demora com que me a longo nesta digressão de cunho pessoal; mas é indispensável e imperioso que os homens se definam, para não serem deformados por uma falsa interpretação das suas atitudes e do seu modo-de-ser. Nunca existiu em mim, tolhendo o êxito da minha vi– da, nenhum complexo de inferioridade, nem há recalques nem malôgros no meu retr aimento. Nem pode haver malô– gros nem recalques num homem que nunca foi candida– to a cousa alguma, nem jamais lhe mordeu o coração a ser– pente da inveja, nem teve pressa de chegar, nem ambição que o projetasse no encalço da glória ou do dinheiro.

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