Revista da Academia Paraense de Letras 1954
66 REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE n;:; LETRAS E ninguém queira recusar a Renato Viana o mérito melhor de ter sido o Antoine do teatro nacional. Se não empregou ·os exagêros, o tre– mendo radicalismo do eminente e incomparável artista francês, exe– cutou como· êle obra de relêvo, está visto aue já fora do convenciona– lismo que o mestre matara, fora dos anacronismos bolorentos, impondo ao nosso teatro um rumo seu, r.umo novo uma coisa nova, louvável aplaudível, merecedora do amparo de todos nós inte lectuais, de todos nós que conhecemos o teatro oor dentro e por fo:ra, de vê-lo, de sen– ti-lo, de estudá-lo, sem má fé, com o bom senso de observacão e o deseja de cooperar, sem malícia, lealmente, com os s_eu~ obreiros, :;-– escritores, autores e quantos trabaH.avam em tarefa tao mgente e tao ine:rata, muitas vezes incompreendidas. muitas vezes masinada, em esoocos de despeito e inveja, em críticas de corriihõs inoperantes, crítica, improdutiva. de gente improdutiva. - Muito lutou Brieux para as suas conquistas. Mas, lá chegou a hora em que êle, intemerato, arrombou as portas do teatro francês e ali introdµziu o seu t eatro moderno, desparadoxado, de combatividade, dentro de moldes novos, desbaratando o drama de tése e liquidando a "comédia·rosse", da classificação de crítico demolidor, das minhas leitu– ras e da minha paixão. E varou intrépido a Comédia, com a "Blan– chete" que Antoine encenou e representou triunfalmente. FoL . . tam- bém assim o esgrimir de Renato Viana. · E se .eu cheguei a me exoressar dêste modo, não é porque Re– nato Viana, nas suas composicões, como "Fogueiras da Carne', me relembrasse Brieux e nas representacões me desse indeléveis recorda– ções de mestre Cristiano Sousa e de mestre Luiz Pinto, do orimeiro na sua feição antoinesca, moldada aos talentos de Cristiano e de Renato, e· do segundo, no seu gesto de reores.,,ntar. parecendo-se com Pinto na estatura nos movimentos e porventt ra em certa enfase, usual num e noutro, o que não era de estranhar, pois não há discípulo que não receba a influência· do mestre, dela nunca se podendo eman– cipar por completo, ficando-lhe sempre- nalma complexos de grandeza esoiritual, que lhe foram finais no c·omêco e lhe ficaram a iluminar 0 • caminho, a vida inteira. Eu me confesso um delinauente irremisso dêsses complexos. Ja– mais me pude despresilhar da influência, que outros podiam acoimar de fatídica ou nefasta, e eu a recebi, e tenho-a como fatalidade, de Artur Achiles, Anibal Mascarenhas. Camilo e Fialho, essa quadriga infernal de polemistas e demolidores. que me deixaram no espírito e no organismo, todo o fél, todo o ácido prussico, todo o arame farpado e todos os cutelos - que possuíam a fartar, constituindo um arsenal de tranquidernias furiosas . Cristiano Sousa e Luiz Pinto foram duas grandes figuras, duas grandes expressões do teatro de Portugal e Brasil. sendo que aquêle, formado em dire ito, espírito culto, inteligência lúcida, de apercepções extraordinárias e oue foi da muita couvivência de Renato. ao voltar de s ua excursão de estudos e observações em París, consideraram-no e o cognominaram em Lisbôa, o "Tonio". delicado comparativo de Antoine, de quem ê le recebera fortes e expressivos r eflexos. legados mais tarde aos seus discípulos de mais talento e envergadura artística. como po– demos exemplificar com o inesauecível confrade RENATO VIANA. 11:ste juizo aqui expondo de Renato, não é um d esborda– mento de zumbaiais, porque ê le já não vive, mas o modo de v er de um homem verista, espírito sem temorc>s e acusado de asp er ezas, e que não sendo de briga, compraz-se em dizer as coisas como são elas, bonitas ou feias, dôces ou amargas, embora vá nisto, às vezes, certa rabuj isse d e quem 'já viveu muito e muito apre>ndeu no quebra-cabeça do mundo. E mais . Além disto não é um chucro em m atéria teatral, n em quanto a pecas, em todos os seus gêneros, n em ouanto a autores e a tores. P elo que nada articulo de oitiva, pois o aue sei é porque li e v i e ouvi e dou fé . De pastoris a circos a marionetes ou mamulen gos, mambembes de r evis– tas de feiras e aTrais, burletas e mágicas, comédias, dramas, grangnhol, tragédias e até os atos de Gil Vicente, óperas bufas, opei·êtas, grandes ...
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