Revista da Academia Paraense de Letras 1954

REVISTA DA ACADEMIA P ARAENSE D'E: 1. r.TRAS Eu, que tiver a êste princ1p10 de vida, essa aventura, aplaudia com entusiasmo 1 com veemência o gesto d o pirralho Rena to, a quem achava estupenao de audácia, sem · saber ainda do seu pendor p ela ribalta, do seu encanto molier iano. daquela inclinação que lhe era uma idéia fixa e o fazia esquecer , pai. mâe. ii'mãos, companheiros de brin– quedos, tudo, por que naquela idade êle já t inha - um ·obj etivo, uma diretriz, o rumo do seu Destino. For!Tlidável , êsse garoto Renato ! Bicho danado pequeno macho ! . . . na minha ·gíria sertaneja. O tumulto de minha vida fez-me perder Renato de vist a, afas: tá-lo de minhas cogitações e até esouecer-lhe o nome. · Mas tudo voltou um dia, tôda a r ecordação d êsse passado che– gou-qie de súbito, ao bater-me aos ouvidos. êsse nome de r essonâncias - Ren ato Viana ·! · Rena to Viana , em teatro ? Cara mb a. era êle ! Era, n ão r estava dúv ida, o tal ràpa zinho, que eu sempre vislumbrei, vê-l o, num tempo,. hoje, amanhã, acandorado na arte que sonhar a para a sua caminhada na existência, aquela visão apocalíptica dominante, que o arrastav a, que o envolvia, com e nleios e enlevo~. E eu tive a alegria, a dita feliz à e abraçar nesse dia, aquêle des– conhecido, como se fôssemos velhos amigos. o Renato de uma éra r ecuada e que eu tinha a impressão de ser aic da aquêle menino estra– ordinár io, do mesmo t amanho, a tuado e r esoluto, daquele instante aflit o. de cuidados paternos. Mas êle rrescera. em tamanho, em talento, em objetivid ade, cr escera, er a um rr.estr e. a tor~ escritor , e nsaiador , sugestionador d e espíritos, dominador de plat éias, criad or de estad~s – de alma. psiquiatra das sociedad es, cauterizador de chagas morais, plasmador de temperamentos, estéta ~ filósofo, e como Antoine r eno– vador da técnica de bastidores e cen ârios. Homem d e t eatro completo. entendido em tudo, desde o carpin– t eja r cenoµ áfico aos detalhes do d-::!cor ; d a indume ntária, maquila – gem, movimentação em cen a ; senhur, com os seu s companheiros de F é, .dos segredos da encarnação dos per son agens; o sentido de cada ·p apél, na concepção do autor, como compreender os indivíduos cr iados por êste, dentro, cada um, d a sua fe1<,;ão part icul aríssima: - caráter .– temperame nto, condição e condução de ater-se nó meio ambiente em que a t ua, e nfim, Ren a to era uma est rutura integr a l do ,p alco, onde tucj.o conheceu e aprendeu . onde tudo en sinou e deu qu ina u . , E isto, e tudo isto lhe não era u;n atavismo ; er a uma inclinação, foi o seu fado, a sua sina, a sua dita. a Dita que Deus lh e deu, o F ado com que a sua F ada Benfaseja fadou-o e êle julgou b endita essa fas– cinação, êsse fadário q ue o empol gou e en cantou e sub j ugou-o. P orque, cultuar essa a rte onimoda, dificílima. abraçá-l a com êsse a rdor, com êsse amor, com essa extraordinária fé. só seguindo o rumo d e um Des– t ipo,. que lhe foi viva expressão de fatal idad e n a t rajet ór ia par abólica, d1re1, da sua carr eir a pública. Coisa estranhável ! Nesta v ida de luta incomp reendida. por uma idéia, êle n ão foi um indust r ial do teatro. Dêste, êle foi somente u'm sonhador. Dêste, êle fez uma r eligião a sua mística sem p ensar q 11 ') lucros adviriam dos cartazes, compensados pela justiça e compreensão d o público. Também Brie ux conquanto construtor de cai-tazes, culti– v ava essas beneditices de missionário. Também Br ieux. era um des– prendido e ch eio d e indiferentismo ãc ganhos, uma estranha vocação. que as ribaltas a traíam, com o mesmo ímam a que Renato se prendeu . Dêste, êle er a, nas ribalderias do p ah:o nacion al. uma figura à parte, d esde que iniciou sua carr e ira de vE.:rdadeiro ar t ífice, - autor e ator ; escritor e intérprete, dêsses que sab1:.m experimentar a com oção para, dela -imbuído, tran smi ti-la ao seu audit ório, de modo que êste a com.– p reenda e sinta e se possa, também, insen sívelmente comover. Aliás, isto pode dizer -se uma . prática de t od o grande a rtista, mesmo daqueles anteriores ao reformismo an t oiniano, brutal e cate– górico, êsse r eformismo oue foi o c,wiartelo r adicalista empr egado pela energia espantosa do- mestre frand~s. que tudo derrocou, ao surgir o seu "TEATRO LIVRE". movimento formidável, que trouxe à Fra n ça a r enovação da teatr ologia, em t ôdas as suas fases.

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