Revista da Academia Paraense de Letras 1954

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE 7>E .' ,ETRA~ 61 Estas belas _lições extraídas de uma bem orientada exper iência demo~st ra-n_os mais uma vez que apesa r de t odos os progressos da me~1cma, nao ~ev~mos ~e?P:t;~zar jamais. aq_uilo que o Dr. Otávio de Freitas chama , ~ tmo medico e nada ma1s e que o "senso clínico" que norteava os med1cos d e antanho na ex.pl oração de sinais clínicos a ntes de comprovad os êstes pelos processt,s de laboratório. Ao lado da análise, a síntese é necessár ia e sub st imcial, indispensável mesmo nos pr ocessos clínicos, os qua is por seu t nrno carecem, ainda n as clínicas mais especia lizados. do ·conhecimenlv profundo e geral da clínica mé– dica que deve ser , ao nosso modo de entender , o ponto de partida de todos os diagnósticos . Otávio de Freitas tinha consciência nítida desta v erdade. A 26 de janeiro de 1949, às 1~ horas, nesta cidade deixou de existir o Dr. Otávio de Freitas entrc.e:a!)-dO s~renamente a_ sua alma a Deus, depois de haver prestado os ma is assinalados serviços ao bem do próximo e da huma nidade sofredora. . . . Ficou do seu consórcio com D . Mana de Castro Freitas um filho médico, dr. Otávio . de Fre itas Júuicr. que exer!=e em Recif~ a clinica p siquiátrica proveitosamente, se.e:u,,1do os ensmamentos de::;;se outro grande· vu1t'o da medicina nacional, dr. Ulisses Pernambu_ca°;o, a q__uem t ive a honra de conhecer pessoalmente. recebendo e retribuindo aten– ções que muito me confortavam no desempenho da idêntica especiali– dade a que me d edico. , . . . O triste acontecimento da morl.E do dr. Otav10 d e Freitas me foi imeditamente comunicado pelo eminente dr. Ivolino de Vasconcelos, atalaia vigilante das glórias nacionais. dinâmico e majestoso, que na Capital da República fundou o Instiiu1o Brasileiro, de, História da Me– dicina. justamente pa ra conservar_ na Jembran,ça perpetua dos póster os estas jóias da vida humana. queridas e; respeitadas. abençoadas e glo- rif icadas pelos sécul os afora. Mais t a rde. recebi igualmente uma c?.rta parti~ul;:i.r e amiga, repleta dos sentimentos mais nobre·... escrita do propl'lo punho da viuva Otávio de Freitas . Descrevia-me os últimos momentos do emi– nente amigo e cientista notável . Ao concluir a leitura da carta, eu tinha os olhos marejados e sentia uma infin it a tristeza por saber que aquêle eminente benfeitor da humanidade não mais prodigalizaria o bem estar do próx imo. com suas pré;prias mãos. Deixava porém con– tinuadores ilustres, fiéis d iscípulos e lr>ais amigos que continuar iam a sua obra. Den tr e êstes. se destaca em pn meiro plano o dr. Miguel Ar– canjo. atual diretor do Dispe nsário. ded icado de corpo e alma a êste trabalho imenso de medicina social constituído pelo combate esfor– cado à peste branca . Da aludida ca rta de D. Maria l!'r eitas destacamos os segui11tes tópicos : , " ... Foi vítima de con~ecutivo edemas pulmonares, aos quais não mais pôde resistir o coração, apesar de todos os aux ílios da medicina e dos carinhos e cuidados da farriília. Foram 14 dias de sofrimentos dolorosos suportados com a maior das resignacões. tenào-lhe sido administ rado, a seu pedido, e em estado de completa lucidez, t odos os sacra– mentos da il:ireja Católica Apostólica Roman a, que sempre professou . As ·suas últimas p alavras foram d edicadas à espôsa. filho e neto::; aos ,quais d isse quase imperceptível– mente : ·'continuem ami~os", revelando os seu s úl timos pen– samentos de afeto nas seguintes palavras : "min has net inhas" . .. Da citada carta . destacamos. a ind a o P_eríodo a seguir : "sei o q~a.nto o senl!or o estimava, por isso venho d izer -lhe o que só S" diz e so m teressa aqueles que sentem conosco" . · . P erdoe-nos a digna senhora : o desap arecimen to de Otávio de Fdred.1tas, cruel par a a sua família. foi cr~delí_ssimo para t ôda a socie- lm a e pernam}?ucana .que P.ermanece ate hoJe, enlutada chor ando e en tando a 1rr eparavel perda.

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