Revista da Academia Paraense de Letras 1954
nEVISTA DA ACADEMIA PAHAENSE DE LETRAS A lisonja faz os seus efeitos mortais: - Mentiroso! Já ela lhe sorri, ternamente. Paulo senta-a no colo, teima-lhe o rôsto pelas faces, a mãos ambas, e beija-a na bôca, com demorada volú– pia, sem lhe esmagar os lábios, à maneira dos beijos do cinema ameri– _cano, que assemelham os lábios dos comediantes a uropigios de plumi– tivos, quando se põem em contacto para o mister-li) da reprodução. As narinas de Amelinha aflam como guelras de peixe retirado vivo da água. Um suspiro lhe levanta a curva dos seios tumidos. E, na mais suave e delicada das vozes, tão longe do rude diapasão de seus as– peros ciúmes, murmura: - Podíamos ser tão felizes, Paulo! ... Sim, podiam. E por que não seriam ? Os olhos da moça elan– guescem. E deparando o relogio, cujos ponteiros vão marcar as dez horas, êle sugere, docemente : - Vamos dormir meu bem? O convite é amavel, o marido acabou de beijá-la, como se beija uma noiva, depois que o último convidado se retira. Lá do fundo do quarto, o leito do casal sorri para eles, na alvura dos seus linhos brancos, rescendentes de aromas silvestres, como a di– zer-lhes: - Vinde, vinde depressa, selar o pacto da vossa recoi,ciliação. -- ______.
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