Revista da Academia Paraense de Letras 1954

52 REVISTA DA ACADEMIA _PARAENSE nE LETRAS desenvolvimento no organismo de um micróbio especial", firmi:indo então Roberto Kock - e definitivam':!nte - a doutrina do contágio. Já se haviam assim lançado, desde 1882, os sólidos alice,rc~s da moderna e fecunda tisiologia, em que foi bravo mestre Ota~10 de Freitas, e a tal ponto mestre que já se disse, com acêrto, entre nos, ser êle mesmo (Otávio de Freitas) com suas realiza<;Õe~ A HISTóRIA DA LUTA CONTRA A TUBERCULOSE BM PERNAMtlUCO. Sob os golpes fulminantes do terrível morbus, já haviam caído nomes ilustres na poesia brasileira : Casimiro de Abreu, Alvares de Azevedo Castro Alves, Fagundes Varela, Cruz e Sousa e muit.9s outros, deixando-nos uma impressão tristissima da vida cantada tao lugubremente pelos expoentes máxiinos da nossa intelectualidade. Tã_o frequente se depara a tuberculose en1re os homens de letra;, do Brasil que Monteiro Lobato a congominou "a infame" e foi por al,gum tempo mesmo considerada entre nós "a doença romântica". Narra o poeta Rodrigo de Abreu que sua mãe constantemente, lhe advertia : "Meu filho, deixa de fazer vetsos ; ouvi dizer que todo poeta morte tísico". Efetivamente é ho_je conhecida a eleiçiio do bacilo pela célula. nervosa, refletindo, como e natural, sôbre a sensibilidade, exaltando algumas vezes a imaginação de maneira apreciável e outras vezes influindo sôbre as más paixões e arrastando o õeu portador à prática do crime. Em 1900, época a que me repor to nestas despretenciosas linhas, Pernambuco ouvia, com infinda emoção, os versos de Auta de ,Sousa, a infortunada potiguar falecida, vítima do bacilo de Kock, em Natal, a 7 de fevereiro de 1901, dos quais destacamos o soneto a seguir, cheio de dor e da mais santa resignação : · "Eis o descanço eterno, o doce abrigo D_as almas tristes e desg-raçadas : Eis o repouso enfim ; e o rnno amigo Já vem cerrar-me as pálptbras cansadas. Amarguras da terra ! eu me desligo Para sempre de vós . . . Almas amadas Que soluçam ~or 1;1im, eu vos bendigo, ó almas de mmha alma abençoadas. Qujlndo e~ daqui me for, &njos da guarda, Quando vier a morte que não tarda Roubar-me a vida para nun1.:a mais'... Em pranto escrevam sô))re a minha lousa : "Longe da mágu?, enfim, no Céu repousa Quem sofreu mwto e quen1 amou demais". Vinha de longe, ceifando vitimas. a tuberculose no Brasil. O dr. Alberto Silva, ilustre historiógra_fo mádko. domiciliado na Bahia, escla– r ece bem .es~e assunto no seu mter es:;ante trabalho : "Tuberculose : doença ahenigena", estudando-a sôbre o seu tríplice aspecto: o meio - o hor:nem - _o n;ial, para CO!ílcluir. apontando-nos a doença, então desco– nhecida dos m<µgenas, t~i:i4o entrado no Brasil, com a população alieni– gena, ao contrario da s1fülis. do oaludismo do cancro das camaras de sangue e algumas "fluxões do peito•· e "priorises" de 'que fala o Padre José de Anchieta, não itentificadas como tuberculose pulmonar. , Das doenças citadas, a sifilis principalmente alarmou o Padre Nobrega a t_al ponto que o fez clamar ao chegar entre nós: "Aqui morrem _muitos d~ mal gálico", o que levou Gilberto Freire a comentar, com sa4iq _humorismo: "O Brasil pai:ece ter-se sifilizado antes de se haver civilizado". ' O Dr,~ Alberto Silva r egistl·a, com bons fundamentos e farta do– cumentação, o caso clinico do Pad~e Manoel da Nóbrega_ con;io o pri– meiro caso de t uberculose no BrasL, apontando o padre Jesuita Fran– cisco Pires, ocorrido 1,6 anos dépois, como senqo o segundo caso. Ccnp, efeito, narram os crorustas que tendo o padre Pi.res enfermado ;no cam1-

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