Revista da Academia Paraense de Letras 1954

,,. •18 ' , ...... REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE OE LETRAS "Venho de alguma essência embrionária, para finalidades que não sei, com farrapos na vida, como um pária, com púrpuras de sonhos, como um rei!" E continua o solóquio, em "Gólgota Abençoado" : ''Ensinei o perdão - a humanidade, bruta, o ódio me ensinou. . . Até a Justiça, em que acreditava, como em Deus, vi ser uma entidade hipócrita e postiça, que condena Jesus e exalta os fariseus ..." "Tarde de minha terra, eu te desejo, como uma bôca que não quiz meu beijo ! ..." A idéia de lábios recusados, chega a se fixar em compl exo, de certo, ao reconhecer a sua desdita : "Lábios tuberculosos, rosa langue, esquecida, perdida, abandona.da, a morrer, a morrer, orvalhada de sangue, pela angústia cruel de não ser mais beijada ..." Lábios irmãos dos meus, ':iof Tantalos, dos Jós, dos Prometeus, - lábios que ninguem quer ..." Antonio Tavernard encontrou asilo para o seu mal na suprema crença em Deus. Os poemas que escreveu são tocados, em sua maioria, de essência cristã, reflexos de sua formação espiritual. Revelam, mui– tos dêles, êsse sentimento, corno em "Cristo Redentor" : "Sôbre o universo, Deus ; sôbre a Cidade, a Imagem". "Quando Êle abriu os braços para a terra, chamando a Si o seu rebanho aflito, sôbre as almas desceu a doce paz estranha da tarde angelical do sermão da Montanha". ' A publicação de '•Místicos e Bárbaros", por iniciativa do editor Hermogenes Barra, apoiada por esta Academia, aquele, um lutador pela "Revista da Veterinária", e que, louvávelmente, vem concorrendo para maior difusão das letras regionais, constitue o fulcro assinalável de urna recuperação da obra heterogênea de Antonio Tavernard, em– bora, esta coletânea se ressinta' da inclusão de algumas poesias de sua autoria, corno ·'Ultima Carta" e outras, bastante conhecidas e decla- madas. ' Valendo apenas corno anotações marginais êste reparo, nada obs– tante a realização divulgatória de "Místicos e Bárbaros' merece en– cômios, pela nobreza do seu gesto animador, em favor de nossas le– tras e da anonímia de nosos escritores. E, pa ra chegar ao têrmo desta fastidiosa retrospecção emocional, recolh'11110S em nossa saudade a figura inesquecível do trapista do \

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