Revista da Academia Paraense de Letras 1954

' REVISTA DA ACADEMÍA PARAENSE DE LETRAS 4'7 do~ bairros humildes, que ficaram fotografados no seu livro de contos editados em 1930 e no romance "Sacrificados", que ficou inédito. Um quadro dêste ambiente é uma noite de São João, com os seus b,alões e fogos votivos : "Meu São João, . na noite do vosso dia, com fogu~iras brilhando de alegria, com _alegrias cantando num rojão, parai um pouco na melancolia do meu portão". "Tanta estrela no céu e eu tão sozinho .. . Na terra, tantos sons e eu tão calado ..." "Mandei-vos um balão, um sonh~ lindo, que foi subindo, foi subindo, até que, muito alto, se queimou ... " .......... -:-- . "Mal de muitos ? Eu sei ... Mas ,tambem sei, que nunca ma.is outro balão solte'i. Nunca mais, nunca mais !... " . \ E, com o amanhecer friorento, o poeta termina numa expressiva imagem: , "Lá v em o sol como um balão dourado !" Outro ân gulo interessante de sua individualidade, a entusiástica PTeferência pelo Clube do Remo. F.oi êle o épico burilador do hino d_e guerra do Leão Azul, cognominando-o "FUho da Glória e do Triunfo", em versos de vibrante expressão p\jmpica. Escreve o seu fraternal biografista, que Antonio Tavernard, - "Terminado o curso de humanidades matriculou-se na Faculdade de Direito do Pará, no ano de 1915, quando tambem rece~eu _a cader– neta de i;eservista de 2.ª categoria. Cursou apenas o primeiro ano. Por que ? Porque, naquela época, teve início a história amarga, a tragédia impressionante do "Rancho Fundo". Achava-se o vate nos albores de sua radiosa e ar~e~te juven– tude, o espirita de imaginativo flamante de ilusões, e, prmc1palmente, o coração e o sangue, em esto; de amores e de venturas sentimentais. Mas,o ~estino o atraiçoou, tran smudando o sonhador em a~acoreta da Renuncia e da Dôr. Êste o drama de sua atormentada e dolorosa vida, dentro de um quadro de conformado sofrimento, a começar pelo adágio: "Cada um dá o que tem ! E e u digo tambem, pensando nos meus sonhos vãos, dispersos . .. Ah, a verdade ! A Vida deu -me a Dôr, eu doti-lhe versos !..." Retrata-se, então, no . seu fementido orgulho, como um outro Augusto dos Anjos :

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