Revista da Academia Paraense de Letras 1954

46 REV,ISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS Primavera da vida, a puberdade deixa a mulher em- flôr ... Chega o verão, dá-se a posse definitiva ! O mundo lembra um leito que se agita ... No sussurro do vento há soluços de amôr ! ... " Vejamos a sua ansiedade e·m "Esperar" : "Há sempre, no caminho, alguem que espera, e, na distância, alguem que não vem mais ! ... Mas a esperança é como a primavera, que até nas pedras faz florir rosais ... Esperar. . . Esperar ... Morrer e ressurgir, em cada dia, para a mesma promessa fugidia, para o eterno ·'virá ou não virá" ? .. . Goso que tem torturas de agonia .. . A volúpia de dôr mais perfeita que há . .. " Se fôra possível, com tempo e capacidade, nos abalançaríamos a dedicar um trabalho. maís concreto à obra litero-poética-teatral, de An– tonio Ta·vernard, recorrendo a fontes valiosas, que ainda n ão foram . consultadas e ao farto manancial de pr oduções que êle deixou espar– sas em revistas e jornais . Seria um esforço supletivo ao carinho de Georgenor Franco, à memória do inesquecível Toni, na doce abrevia– tura de seu- nome. Houve a roda notívaga do "Rancho Fundo", com Aldenor Duarte Guimar ães, hoje no Rio de J an eiro, cantando esta canção, que fez época e · inter pretando os versos que o poeta escrevia e Waldemar Henrique musicava. Só essa caravana do "Rancho" é uma reserva de material inestimável para se re,liver a arte e a vida de Tavernard. Quanto aos companheiros mais efetuosQS, que ali se reuniam para escutar os violões notâmbulos, as modinhas madrigalescas, as es– trofes dos trovadores saudosistas, em serenatas românticas, assistidas até por apatacados mercieiros, gue concorriam para a satisfaç;ío dos con– vivas, com o saboroso chope paraense e outras bebidas inocentes ... É assim que o querido Toni reevoca essas tertulias, quando o luar e o violão predominavam, inspirando-o melancólicamente : "O órgão do luar !... A alma da gente toda se debruça sõbre o instrumento, que nos faz vibrar ... E a toada, languidez sonora, subindo, espiralando pelo ar, tem qualquer cousa de alguem que chora com uma vontade imensa de cantar ... " "Companheiro d e toscas soledades, voi de humildes silêncios, namorado das que nunca na vida foram amadas, consolo das angústias sufocadas ... " A maneira de Lima Barreto, o criador de ; •Policarpo Quaresma", Tave rnard vivia e sei:itia a existência dos subúrbios, te11do escrito pá– ginas de admirável ficção, de aguda psicologia, com tipos das ruas e

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