Revista da Academia Paraense de Letras 1954

44 REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS Tenho a sua amplidão iluminada, - o meu amor ; e o seu velário de brumas, - minha magua". ~16,~--'1., . - • • ,.,,._e, A influência do mar sugere-lhe a similitude com a sua augústia. E êle declara : "Meu gigantesco irmão, senhor do cataclismo, se tens, por coração, um negro abismo, eu tenho, por abismo, um coração .. ." Se lhe afigura, assim, a inquietude do mar, a sua própria desdita, tudo quanto se desfez em amargores. E então exclama: "Dentro de ti, quantos naufrágios, quantos, de naves rotas pelos vendavais ! ... E, dentro em mim, sob aguaçais de prantos, quantos naufrágios, quantos, quantos, de sonhos, de ilusões e de ideais !" Para se fazer um estudo penetrante ·da personalidade intelectua~ e poética de Antonio Tavernard, na sua transcorrência existencial, t e– ríamos de perquirir a trajetória de sua infância e de s ua juventude, como estudante primário e secundário, quando os seus talentos eclo– diam' promissõriamente. Não será, porém, nêste bosquejo, sem consis– tência literária, que iremos tentar essa tarefa, que demanda criteriosa pesquiza de elementos dispersos e muito de informações orais, sôbre o harmonioso mundo de pensamentos em que divagou, a ntes maravi– lhado e depois em crucial resignação, o insulado do "Rancho Fundo". Já vimos o que a visão introspectiva do mar, naturalmente fixa– da na idade de seus brincos infantis, estereotipou no subconciente do nosso bardo . E assim, na mesma analogia dominante na sua tensa sen– sibilidade, êsse supremo altar que êle ergueu no coração filial, de cru– cificado, à criatura amantíssima que lhe dera o ser e onde orava, como nas vozes dêstes sinos : "Quando a gen te nasce e vai-se a batizar, na ermida branca põem-se a badalar os sinos álacres, numa voz assim : - Dlin, dlin ! dlin ! Dlin, dlin dlin ! Quando a gente cres_ce e vai-se a _casar, na ermida branca poem-se a badalar os sinos risonhos, mas em meio tom : _ Dlin, dlin, dlon ! Dlin, dlin, dlon ! Quando a gente mor!e e vai-se a inumar, na ermida branca poem-se a badalar , os sinos doridos, numa compaixão : _ Dião, dlaão ! Dlão, dlaão ! Dlão, dlaão !" E termina, com a enternecida magua do filho que sabe não ter mais às claridades matinais para fazê-los soar festivamente aos ouvidoti maternos, os sinos de sua infância ; .1 \ f

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