Revista da Academia Paraense de Letras 1954

REVIS'l'A D A A CADEMI A P /.1.RAENSI!: DE LE'.rRAS m en in as, um conquistador de mul h er es casad as, um velh_o s~m ver go– nha ! Irra! Não me a rraste a um acto de loucu ra! A p ac1en cia tem li– m ites ! Nunca foi t ão estupidame n te enxovalhado! Um dia n ão são dias ! Não tenho sangue de bara ta ! Cala-se. Falta-lhe o ar. E' car díaco. Est á afogueado, trepidam -lhe as jugulares como enxarcias sacudidas pelo vento. Amelinha empina-se. Não dá o braço a torce r. Os seus olhos des– fecham cintilas. Aceita a lut a. O dardo está lançado. Explode com o pe– tardo. - Diga logo que me dá p a ncada! E' só o que falta. Dê logo ! Se p ensa que tenho mêdo, engana-se. Aqui está o meu r ost o, bata, se fôr homem ! Chega-se par a e le com rompante, leva-lhe o r osto até ao alcance d as mãos. - Bata, ande, bata ! Não corro de care tas. Se quer ir para a casa d e suas amantes, vá. P óde ir! J á, até ! De fome é que eu não mor– rer ei. Tôda a vez que você tem entrevis ta marcada com alguma dessas ba ndidas, arranja um pre texto par a a usentar -.se, briga comigo, insulta– me. ameaça-me. Dá -se como vítim a, acusa-o de factor d e todos os conflitos domés– tico,:. Cabe a vez a Paulo de r evelar zelos: - Bem sei que n ão lhe faço falta. Certamente já tem com quem se mete r. As suas saídas para ir ao çemltério, a té duas vezes por dia, tinham que acabar assim. Amelinha está entre sur presa e triunfante, mas não o demon stra. E ' a primeira vez q ue lhe ou ve pa lav rns de ciúme. E' certo então que ele ainda lhe tem amôr? Replica, enfá tica: - Não preciso de homem p ara viver . Se i trabalhar. Não tenho os br aços quebrados. Ach a-se presente um amigo íntimo, familia r da casa, compadre de ambos, o SI". J oaquim, homem pachor rento, temente a Deus. Dispõe-se a serv ir de medianeiro n a rusga. - Comadre, aca lm e-se. A senhor a está fóra do seu na tur al. Não exagere. Tenh a pena do compad re. Bem sabe que não goza saúde e essas br igas frequentes acabar ão dando com ele no cemitério. Ame linha repon ta com fú r ia sôbre o compadre, que leva logo para o seu tabaco. A moça não lhe p erdôa a in ter cessão p arcial. - O senhor também é bom para o fôgo. Só sabe meter o be– delho para sair a favor dele. Mas não se me ta, cuide d a su a vida e deixe a minha. Agora a té assassina eu j á sou! E' o cúmulo d o a trevi– mento debaix o do meu teto ! O sr . J oaa u im humilha-se, q uer dar explicações : - Comadre, não é isso que c u quer o dizer. Deus me livre de pensar semelhante monst ruosid ade da senhora, que é tão bôazinha. Amelinha assume um tom dolente e insiste em det urpar as pa– ]a\•ras do compadr e: - Sim. senhor ! Como são as coisas neste mundo ! Nunca pensei que o homem a quem sempre tratei com est ima e consideração, pa– drinho de meu filho, comensal da minha mesa, viesse a me cham ar de assassina! E repetia: - Assassina, c u assa~sina ! Que horror, meu De us ! Que injust iça ! O sr . J oaquim está desolado. O seu cacoete habitual, que é mas- t·gar a sali va. acentua-se fren e t icamente. Most ra -se cm a t itude la<;ti– mosa, a rrependido do seu inopinado cntreme t imcnto. Considera-se, desde j á , um homem liquid ado na confiança e no apreço da comadre. Repete a cada minuto, à man e ira do estribilho :

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