Revista da Academia Paraense de Letras 1954

•· REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS em meu gabinete no Edifício .Rex, onde funcionava a Divisão de Educação Extra– Escolar do Ministério da Educação, da qual era o Diretor . Ao meu lado, alguns amigos, entre os quais Figu eira de Almeida, meu assis– t ente, "torciam" n.nimados, esperando que o pleito, dessa. vez, se decidisse a meu favor. Pouco antes das cinco chegavam minha mulher e minha filha, que· vinham partilhar comigo daquele instante crucial. Josué Montelo, Néllo Reis, Océllo de Medeiros, Osório Nunes e três outros camaradas da nova geração que despontavam para a vida intelectual e cujos nomes me escapam à memória, decidiram tomar o rumo da Academia, cujo prédio ain da se avistava, n aquela ano, da Janela do cdiflcio onde me encontrava. E apontando a calçada por onde deveriam -passn.r, combin aram levantar os braços à minha vista, se o resultado fôsse favorável, numa espécie de telegrama mlm1co. Despediram-se com o sinal convencienado, enquanto à Janela do prédio eu con!ldenciava à minha mulher, à minha fUha e, depois, à minha mãe, que che- gava para participar daquela cêna, como se !ôra enviada pelo destino : · - Não apoquentem se eu fór derrotado. De qualquer forma o resultado será uma, vitória, porque vai ser uma llbertação. Desta vez eu me curo da "febre verde" , seja como fôr: efeito ou refugado . Olhei o relógio. Marcava cinco e mela. o telefone tillntou. Era Cláudio do Sousa que me anunciava o resultado do primeiro escrutlnlo. Nenhum dos candl· datos atingira o "quorum" exigido pelo regimento. Voltei à Jan ela e vi que uma lágrima lrrepr1miyel molhava o rosto de minha mulher. - Já disse. Nesta altura, mesmo vencido, ·estou vencedor. Porque, com o re– eultado desfavorável, não se pensa mais nisso. E acabou-se. Vou tratar de passar o tempo todo à caça de votos. Basta. Devo ter dito mais palavras. Palavras que. 0 vento levou, porque a memória esqueceu. Continuei a olhar o ponto em que se localizava o meu sonho literário, fazendo concessões mentais aos meus gratüitos desafetos. Já admitia que vences– sem a par tida, quando o telefone voltou a soar. Não tive tempo de receber a no– ticia por via oral, pois fiéis aos sinais convenclonados, os Jóvens amigos que se h aviam deslocado para o ambiente da eleição, levantavam os braços em sinal do vitória. Senti-me eleito visualmente, antes que a voz de Cláudio de Sousa atra• vessaase o fone anunciando-me a eleição para a cadeira número dez, no segundo escrutlnlo do pleito. · Findava-se a campanha, sant ificada por um beijo de minha mlíe, que lia no meu rosto o que Cláudio me dizia aos ouvidos. E por milha filha. que pressentindo o acontecimento, me convidava a partir, com a fina intuição psicológica do êxito : - Vamos .pra casa, Papai. Desta vez não é como das outras. O telefone vai tocar multo. E tocou . Atento às expansões familiares, eu dedicava minha maior atenção a estudar as reações que o fnto provocaria no espírito de ,;ninha m!\e . T eria a exata noção do que representava para mim, e, sobretudo, para ela, aquele epi– sódio que fazia esplender sua participação na Jornada que nll se coroava? Bus– cava descobrir n a sua fislonamla os sinais de contentamento que me de68om a expressão total da satisfação que a dominava. Ela, porém, parecia Imperturbável, como se fõsse superior ao acontecimento, ou como se as cênas de alegria que se sucederam ntio tivessem maior lmporti\ncla para o seu coucelto. Depois do beijo com que me engrlnnldára a fronte no momento Justo em que eu recebia a noticia da vitória, a velhinha portava-se com a sobriedade de uma "lady'-, como se quisesse transferir pa ra outros o qulnhllo de glória que, por dlrelto, lhe per– tencia . Despojava-se voluntàrlamente de um triunfo que era mais dela - a fonte - do que meu, - a Unfa. Recorde-se um dos capítulos Iniciais desta obra, em que compendiei as t rêe mestras da minha infância, e anote-se o que representou a primeira delas, a que Justamente mi! confidenciou o segredo das letras. a forma dos símbolos gráficos através dos quais eu caminhei n a vida. Foi Junto à sua mnqulna d e costura, f1-

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0