Revista da Academia Paraense de Letras 1954

REVISTA DA ACADEMIA P ARAENSE DE. LETRAS 2U sim os derradeiros serão oa primeiros. e os primeiros derradeiros; porque muitos são chamodos . mas poucos escolhidos" . Apresentei-me ,•árias vezes ca::idlclato i\ Acnclemla. De tal formn se fortaleceu meu nome nêsses embates pelo apóio sempre renova do dos amigos q ue fiz nll d ent ro, que o minha candidatura se tornou uma verdadeira ponta de la nça n o campo d a lmort alldnde. Os lnl0<lgos, com suas guerrilhas e " venenos" n !lo me deixavam eleger-me. Em corrrpensnç!io. eu , cóm meu con tingente, não os d eixava eleger quem êles queriam . In úmeros plelt-os ficaram sem resultado em virtude do equllfbrlo de fôrças. Se os meus adversários me negavam a maioria de que cu necessitava para triuntar , eu, por m inha par te, não lhes dnva o gôsto de me - verem vencido . Voltava à lutn. A!nd a que n&o triunfasse, não era derrotado. Qua ndo se verificou n vagn de Laudellno Freire, cu me encon trava em Belo Horizonte. Ali mesmo vim a sa ber que dez ou doze acad êmicos, consid eran do n necessid ade de dotar os quadros da Ilustre Compnnh!n de um filólogo que orien– t asse os trabalhos llng uistlcos em franco abandono, se haviam fixado no nome de Llndol!o Gomes. grande estudioso do vernâculo e especialista do folclore brasi– leiro para substituto do In im igo dos gnllclsmos na cadeira que fôra de R ui Ba r– bosa. Retor nando ao Rio. fui Jogo Inscrever-me candidato. o que motivou conselhos de todos os lad os: "NIio raça Isso. Nl\o estrague os votos que dispõe. Acaba rá por rat lgã-los. O Llndolfo está eleito". A certeza que todos punham nn elelçã.o do sa udoso e ilustre professor e a segurança em q ue êste mesmo estava de sua vitória me pareceram justamente os argu men tos m ais propícios no meu êxito na quela conju n tu ra. Os preceden tes me au torizavam a pensar d essa maneira. 'Fõra assim que Ribeiro Couto logrãra eleger-se contra Teodoro Sampaio, Jogando mais nas garantias que cercaram a candidatura do emérito t uplnólogo e mestre de etnologia do que n a sua próp ria bngagem e no seu ren ome de poeta e ele contist3. Enq uan to Llnd olfo ,Gomes dor m ia sóbre cs loiros da escolha prévia , eu co– mecei o meu trabalho de formiga, carregando nas costas pacientes os votos q ue poderlam apoia r-me nessa tentat iva, que seria (quem sabe lã !) a última . Deliberei fazer uma sondagem nos elementos que, não m e sendo slmpá.t!cos pelo menos nl!.o me hostilizavam de frente. Fui procurar Afrãbio Peixoto. Recebeu-me cor tczmentP em sua casa da rua Pnlssandú, afetando nessa noite uma grande cama radagem . E~pus- lh e o meu desejo e, para envolvê-lo num com promisso ou noutra in an ifestnçíio, roguei-lhe uma sugestã o sôbre n atit ude a seguir. Deveria canclldnta r-me ? Deveria retr o– ceder ? Hâbllmcnte fugiu Afrfi nio no assédio. R ecordo suas palavras: - "Você, meu ca ro Orlco. tem muitos tltulos ao meu a pr êço. Entre é les, por que negâ -lo ? - aquele m urro que a pllcon certa vez no Osór io Duque Estrndn (éle e Osório eram lrrecouclllávels e n ão ha via semnna em que o critico contundente não zurzisse a lin guagem Incorreta de quem se acred ita va um dos gra ndes lusitanistas do nosso tempo) . Sem dcsfnzer nos seus livros, eu d!rln que tal murro foi a obra-prlmn da época. Estou , entretan to, Impedido de d r.r-lhe o qne me ped e . E ' que tomei por norma na vida não emitir q ualquer Julzo eôbre estas duas coisas : c:isnmcnto e candld aturns à Academ ia. Nl'lo Intervenho. slstem iltlcnmentc, num ou nou tras. Dispen se-me, por Isso, de pronunciar-me cm assunto de que só V. pode ser o Juiz" . Conversamos eõbrc ou tros assuntos sem maior lmportâ.nclR e eu npron ·l•el aquelti lição de A!rànlo para aprofundar o meu desejo de levar nvnnte a m ' :iba candldt, turo, fôsse qunl fôsse o rcsUltndo. Ninguém me demoveu n em me c\C''lO– verln cJn proµósíto ele lcv11r nlé o fim a cmprésa. O velho Llndolfo, qHc rec~· •('t•n tôdns ns garan tias da elolçfio, numentnva ns posslbllldaclPS que tin h a, d clxa nd:i-sc ficar no sPu retiro de J uiz ele Fóra. Em ccmpensaçdo. Jullo Nogueira, que acorre– ra ao p regão acadêm ico - " p r6cisa -se de 1,1m filólogo" - desenvolvia uma atlvl-

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