Revista da Academia Paraense de Letras 1954
28 REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE O.E LETRAS -------- da missão que lhe déra Hélio Lobo: a de levar às urnns, para Levf Carneiro, os voLc:.s que haviam s ido meus nas outras eleições. Não tlcaram nêsse, entretanto, os efeitos da cabala que devia arrebatar-me das mãos uma vitória que eu tinha Já assegurada. Dos <;1oze votos vindos d e fóra, que eu pessoalmente entregára à Secretaria da Casa de Mach ado de Assis, só dez ap nrecerum na contagem . A mateml\tica Pere'.ra Lobo esteve a serviços das letras - ou contra as letras - Impedindo mais uma vez meu Ingresso na Academia . Não d esanimei. A febre verde fen •la em mim, tornando-me o timista sõbre o resultado rtnal da minha Juta. ·ll:sse otimismo n ão obedecia. entretanto, á exa– gerada confiança que nos dá a enfermldad~ de candidato: · Ninguém se deu ao trabalho de explicar a e tiologia do ma u acadêmico. Quando ele se apossa da pcfsôa, o primeiro sintoma é a delirante cer teza de nossas possibilidad es de Lrlunfo. confiamos cem por cento nas promessas ou nas reticências com que somos rece– bidos. Adotando a nosso modo aquela gradação sõbre os sentimentos femininos. achamos que, quando acadêmico diz - "não" - quer dizer "talvez". Quando diz - " talvez" - quer dizer - "sim" . E como. em geral, o eleitor, por educação e cortezia com o candidato, nunca diz - " n ão" -. damos ao "ta lvez" o slgnlfl– cndo que mais convém ao nosso desejo, Isto é, colocamos o seu nome nn Usta dos n ossos votantes, seguros de um apõlo que está mais em nossn tantns!a do que n o.s suns intenções. Se nos falham os cólct!los, ainda que as promessas fõ"ssem fir– mes, acon selha a terapêutica a não duvidarmos nunca das bôos disposições dos acadl1mlcos para conosco. Porque tôda e qualquer Irritação originária do fato é contraproducente e mal recebida. Ninguém ncre<;1lta no ataque, no protesto e no oespelto d e um cnnd!dnto mal sucedido. Sua zanga é Jevnda ao rld lculo, como acc,n teceu a Almáqulo Dlniz, que se exasperou com os votos que lhe talhal'Hm ·na sua Jelçã o, aCãbando por dar com os costados 11a Academia Carlóca d e Letras, ,-~, uglo de tódtts as glórlus malogradas. Ca utela e caldo de galinha nunca l1?:Pr9-m w nl a ninguém. Deve s,:r essa a dléta de um candidato que se preza e deseJr, ser eleito. Confiar demois no voto e no felJtio, nns promessas e pratos excltnn:cs, pode levar o pretendente a obter a "Imorta lidade da ... alma", o que não é ne– nbuma vantagem, po rque essa J{I nos está prometida pela ... Igreja. o que aspl– m=s é vestir o fardão em vldu, com telefonemas e telegramas saudando o ecou– teclme[\to no dia da elelç!io, e a presença do Cardeal, no dia .da posse. Para chegar ao éxl to ntl.o podemos dlsµensnr cer tas praxes exigidas em tõdas as academias que se prezam : a visita, a cesta de !lôres nas aniversários das senhoras doa ·•1mor– t a!s'", telegramas de feliz Natal e Ano Bom, se a candidatura coincide com o período das festas. A recusa ou esqulvãncla a êsses mandamentos pode gerar sérios dissa– bores, como ocorr eu n Teodoro Sampaio, que foi con vidado a candidatar-se e dor– miu de touca sõbre os loiros promet!dos, enquanto seu competidor corria a via sacra, com a pontualidade matinal de um carteiro n a entrega da correspond ência. Cols'l pior sucederia ao saudoso general Sousa Doca . Conhecedor p rofundo de nossa hlstórla militar, o erudito cronista nunca levantãra os o lhos do Instituto Histó– rico, que era o seu lar, para a Academln de Letras, que dever:a ser o seu calvário. Lembraram-se dêle como de um bendengó, para que mutilasse qunlquer aspiração tida como indeseJável. Posta ou Imposta sua candidatura pelo gn,po que, então, mandava a li dentro, o !lustre militar não se deu ao trabalho de comunicar que era candidato, quanto mais à mnssadn d e fazer as vlsl,tas de praxi. Resultado : n malo– rln não tomou conhec'.mento de seu nome. a não ser pela leitura doa Jornais, quando se veiculou a noticia de que o miocárdio não resistira no chociue: Sousa Doca delxára de alcançar o "quorum" exigido para a eleição, mesmo sem com– petidor. Dêsses caprichos e circunstâncias é que se nutre a glória acnclémlca. E la né– ccsslta ele ritual e pompRs para 111<0 perder o sorLll~glo. I mog11 1 a J uma catedral sem altares e !lôres, sem Imagens e castiçais, se1n ogivas e Jampndârlos. Seria assim. lnexpressl.•a e fria , uma academia sem os mlst6rlos do voto e sem as ext – gênclae do protocolo. Os que aspiram à linortal1dade n!io pode:m chegar u ela sem tropêços e riscos. São 1orçados a expet·lmentur os mesmos óblces que atormenLaram os voluntãrlos dos Evangelhos, submetendo-os às contlngénclns que, insplrarnm o episódio dn Vinha Cio Senhor, com a sutil expllcn9ão torneclda por s. Matou.e : (2e,I6) : "As-
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