Revista da Academia Paraense de Letras 1954

REVISTA DA AéADEMIA PARAENSE DE LETRAS Ies que deviam tomar-se ~ dos quals me devla tornar um verdadelro amlgo. Com o correr do tempo, os votos de alguns acadêmicos selaram estimas duradouras e inquebr antáveis. Uniram-se no meu destlno, a lentando-me em tôdas as Jornada s. Cito ao acaso os nomes de· Magalhães de Azevedo, Luis Guimarães, Xavier Mar– ques, Celso Vieira , Vitor Viana, Ramlz Galvão. Tão pontuals e exatos se mos– travam êles na afeição à minha causa, tão fidalgos nos compromissos que haviam assumido com a minha candldatura , que se ocorria uma vàga e lhes batia à porta alguma prens!ío, condicionavam seu apolo numa resposta : "Se o Orico não !ôr candidato". Foi assim que eu consegui neutralizar e vencer as lndlsposições que latejavam contra mim no selo da Academia, formando uma equipe de amigos mais valorosa e decidida que o grupo de desafetos que me hostlllzava. Ataulfo de Paiva, que é um técnico na conquista de amizades ·e na arte das dedicações, costuma dizer que a arma de um candidato à Academia é o regador . J;;ie tem de molhar diáriamente as rosas do ca nteiro que quer cultivar. Do contrário está frito. Nunca será "Imortal". Pois a minha a rma n~o foi o regador. Foi a mangueira. A mim não me coube apenas a tarefa de borrifar a terra sêca dos canteiros para que as roseiras não murchassem. Tinha de esgu:char ilgua a jarros para que o rogo dos Inimigos não me devastasse a horta. Felizmente não havia, por essa época, tanta escassez do precioso liquido nos canos da rua. Graças à abundá.nela dos reservatórios e ás bombas de sucção que eu instalára na minha vontade de vencer, o !ogulnho de Olegário e de outros de– safetos n unca. me queimou as roseiras que eu plantára no Jardim da Academia. Elas v'.ceJavam ao sol e ao vento, protegidas pelas mangueiras coin · que eu, cá de fóra, as protegia contra a queimada. Quntro ou cinco vezes tive de apresentar -me aos sufrágios acadêmicos para vencer essa maratona Intelectual. Mal ensaiava minha candidatura, os Inimigos me Jogàvam em cima um bendengó. Sabem o que é bendengó, em glria acadê– mica ? E' o mesmo calhau Blderal qt1e se despenca do espaço com a fôrça d e um bolldo. Capaz de a rrnaar ·ou despedaçar o que encontre no caminho. Afrfm!o Pei– xoto, que entendia de tõdns ns i,.r tes e ciências, era um mestre na especlalldude de lançar um bendengó. Sempre q ue era preciso dosar a composição da casa de Machado de Assis, evitando que ela fôsse Invadida e dominada por Uterutos puros, Mestre Afrânl0 era ouvido sõbre a necessidade de um ··expoente". Naquela a ltura estava em moda o Jurista Levi Carrlelro, que Já havia prestado um bom serviço à Academia, conseguindo no Congresso uma lei que facilitava ao sr. Olegário Ma – riano ser nomeado tabelião sem o canudo de bach arel. com essa bagagem literá– ria e as credencia is de consultor da revoluçê.o de 30, entrou o sr . Levl Camctro na cancha em que eu corria. Seus adeptos o tranquiUzavam sôbre o resultado J o pleito. Aquilo ser!a uma "barbada", logo no primeiro escrutlnio. Travada a lutn, os resultado foram, desanimadores para o seu Indo. Meu nome era o mais votado entre os concorrentes, se bem n!\o houveBSe logrado alcançar o "quorum" pnr.> eleger-me. Derrotado nas umas, tudo Indicava que o meu competidor abandonasse o pleito; mas Olegàrlo, Afrânlo e outros padroeiros não lhe permitiram escapar-se . orerecernm-lhe novas gara ntias de vitória, entre as quais a possibilidade de minha d esistência. Fui sondado n respeito. Elmlro Cardlm, amigo de Lcvl e meu amigo, acenou-me com outra oportunidade, mnls feliz ao êxito de minhas aspirações. Que eu de!J<asse passar a "onda". Nilo concordei. Não concordaria nunca. Se alguém t inha de desistir e aguardar oportunidade nê.o era o escritor, mas o seu concorrente. Se !ôooe l\ Ordem dos Advogndos ou um Academia de Jurisprudência, não teria nenhum constrangimento em ceder a vez. Numa Academia de Letras, nunca ! Minha resposta satisfez amplamente aos eleitores que h aviam sufragado meu nome no pleito anterior. Nenhum dêles desertou de seus compromissos. Em balde ae moveu a cabala em lôrno de Celso Vieira, de Victor Viana e de outros no sentido de desvio.r-lhes os votos que n1e h avlntn acompnnllndo lnnlteràvelm cnte. Raras vezes uma elelçiio terá despertado tanta atenção e movido tantos Interesses. os "cabos.. de Levi puseram -se em campo, movendo céus e terras. Hélio Lobo en– trou com sua ..dlplomucla .., exigindo de Faulo Setu bal uma votação serrada em seu candidato. Cobrava, aBSlm, n aquela altura, o apôlo que• lhe havia dado em tempo. E Paulo, que sempre me dlstlng u!ra. envl:mdo-me ponl.ualmeute os seus su!rtlgtos, de Campos do Jordão, onde vivia e Já qunse morria, encaminhou n so– brccarts coi'l1 os votos a Hélio Lobo, que se encarregou de entregá-los no secretário. Tomei notn do episódio, porque Fldells, o porteiro da Academia, que acompanhava. 11 sorte de minha candidatura com a sua exemplar nmlzade, me fez con!ldemc

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