Revista da Academia Paraense de Letras 1954

2,; REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE í.ETAAS t êrmo à guerra civil que ameaçava o pais. Dentro do Forte, enquanto observáva– mos os primeiros aviões que cruzavam o espaço, o general Mena Barreto chamou– me à parte, per!untando-me : - Sabe onde mora o dr. Mélo Viana ? - Sim, respondi. - Busque uma condução e trate Imediatamente de examinar o que ccorre em sua residência, pois acabo de ter conhecimento de que êle se encontra amea– çado. Seria o cn-so de oferecer-lhe tôdas as garantias para que se transportasse até aqui. Em presença do dr. Valdemar Loureiro, deliberamos partir em seu automóvel com· algumas praças para a missão que nos fôra atrlbuldn. ,· Ao cheg·ar à rua Júlio de Castllhos, esquina da avenida Copacabana, Já. não encontramos ali o ex-v!ce-preslden te, que se havia antecipado às providências para o resguardo de sua pessóa. Ciente disso por um soldado que ali montava guarda, n em sequer desci do automóvel do dr. Valdemar Loureiro, limitando-me a receber um revolver de cabo de madrepérola, que apresentei ao general Mena Barreto e depois era entregue à sogra do dr. Mélo Viana, dona Almerlnda EleJalde. Esta exp licação de um fato ligado à crônica do 29 de outubro de 1930 (narrado à sua maneira por certos pasquins da época) e só a dou agora, pela correlação existente na campanha acadêmica em que fui parte. A pcrfldla de meus d etra– tores obrigou-me a recorrer à única testemunha que poderia dcpôr sóbre a cor– reção com que me houve no episódio: o dr. Valdemar Loureiro. Em r esposta à carta que lhe enderecei, o Ilustre notário m !nelro ntlo só confirmou tudo o qúe aqui ficou narrado, mas também se prontificou a procurar os acadêm'.cos que houvessem sido lno.culados pela calúnia, para relatar n minha conduta ·no seu lado com todos os pormenores que se fizessem necessários. Dispensei-o do trabalho a que se propunha. contentando-me de fnzer chegnr às mãos de Rodolfo Ga rcia e de Hélio Lobo, que se mostravam multo apreensivos corn a história, o testemunho escrito de um homem de bem, pelo qual o "assalto" à casa do d r. Mélo Viana !:cava reduzido n uma simples visita ou missão p rotetora. J amnls dei àquele político mineiro a menor explicação sôbre o caso, porque sempre me recusei n levar a sério a assacadllhn . Refutei-a cm tempo, quando se fez necessário varrê-la de meu caminho, apoiado em p rovas. Oxalá possa o sr. Olegário Mariano, ao escrever na suas memórias, responder ao libelo de sua sogra, publlcadó nas colunas do "Jornal do Bras'.I" a respeito dos caçadores de dotes, com a tranquilidade de consciência com que, nestas páginas, saneei suas peçonhas. Multo cedo começou a Academia a fa~er pnrte das minhas cogltações. A prin– cipio, estive cont ra ela, realizando a primeira parte da vida dos homens de le– t ras, que A!rãnio Pe!xoto dividia em duas fases : Incendiários e bombeiros. Em 1921 lá estava eu com Graça Aranha e os rapazes do movimento modcmlstn, que– rendo la nçar fogo li cidadela acadêmica e repetindo o refrão da época: renovar -se ou morrer. Fui dos que aclamaram o mestre de "A V!ngem maravilhosa" e vaia – r am a Academia, quando Coelho Neto protestou contra os termos em que Graça Arnnha colocára o seu dlssldlo com o espirita ncadêmlco, proclamando-se O "últlmo heleno·· e investtnao contra o cavulo de Trota nrmado entre as paredes azuladas do Petlt Trlanon. Passei depois à !ase de. bombeiro. Comecei a apagar o fogo dos vinte anos, concorrendo aos prêmios da Academia, rrcquen tando-lhe as sessões de posse e ctls tribulçúo de !áureas, en vlando livros aos "Imortais" , visitando-os em seus anl– versârios e en!ermldndes. Uma dus primeiras vitimas de meu namoro com a Aca– demia foi Goulart d e Andrade. O grande poeta e teatrólogo, que marclira a mlnba atitude anti-acadêmica na sema na de arte moderpa, experimentou especial con– tt!ntamento com a minha vlugem a Canossa . Enrcrmo, recolhido em tuna cadeira de rodas com uma boh1a. preta a proteger-lhe a calva que tantns · vezes clntllãra nos comlclos Jlter{lrlos de seu tempo, o mestre a lngoano reservou-me um lugnr entre as poucas dedicações que lhe acompanhara m o ocaso dn vida. Tomei-me intimo ela casa, tendo tido ocasião d e apreciar a dedicação com que sua esposa se postava a seu Indo como um at\Jo da guarda, velando e protegendo nquela chama bruxuleante. , Se 68 clrcunatíinclas conspiraram para atiçar contra mim certas prevenções denuo da Academia, eu conspirei contra na circunstâncias, fazendo aqui fóra um grupo de amigos fié is, l)npermcável a qua lquer Int riga ou propósito de bostllldade. As pr imeiras experiências eleitora is me foram aproximando cada vez mais daque-

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