Revista da Academia Paraense de Letras 1954

o MONSTRO VERDES (Observações 01·iundas de uma vida de casal) de PAULO MARANHÃO Amelinha é uma ciumenta de imaginação ardente. Vive par a os seus zelos como o forret a para o dinheiro_. a flôr !?ª!"ª adôr~o das mulheres e o homem par a as engana r, cumi:>~mdo o f~dan? de _pollgamo. o namôro de Amelinha fo i um pen odo de 111qu1etaçoes suces– s ivas O noivado. uma antevisão do inferno que seria b matrimônio. O noiv~ passava "baixo". Mas era linda. Tinha duas covinhas nas faces -:- uma de cada lado _ que atraiam e empolgavam como abismos. E sob os. olho~. ~e reflexos de enigma, irradiantes, amendoados e be)os, as <;>lh_eu·as v1ola– ceas este ndiam ô visgo do seu encanto de sensualidade m1st1ca. Casaram-se. A lua de mel, que preside, com o signo do seu mis– tério.aos alvores do matrimônio, não chegou a ser inte ir amE:nte dôce: ,Em aleuns setores do astro noturno faltava açucar . . . A's vezes, o ciume toldava a limpidez dos dias felizes. Vieram os filhos - uma camba– dinha levada, irrequieta como azougue. Paulo exultou : êles serian:i um derivativo às preocupações intimas de Amelinha. Enganou -se, en- tret antn. o tempo foi r odando, porque é a única coisa, nesté mundo, que não se detém. Paulo é v inte anos mais vel ho do q ue a espôsa e a na– turêza sente um certo dele ite malfazejo em destroçá-lo. Duas breves gêlhas paralelas vincam-lhe a fronte em sent ido vertical e duas ou– t r;;,s. psrt:ndo das asas do nariz. descem-lhe; recurvas como alfanges, a té às comissu1·as dos lábios, inclinando-se para o lado do queixo, onde expiram suavemente, emprestando-lhe um a r de cor vo velho. Amelinh~ ?madurece devagar, com a lent idão da gota dagua vul– nerando a ma tena bruta. O tempo tem pena de crestar a sua pele de– l icada, que uma dourada palidez envolve. Por três vezes teve de rn•. · to a morte: P er_dera a m ãe, de pois de uma longa agonia, que lhe cus– to~J ,a~os de fad igas, e m?rreram-Jhe nos br aços, que se fizeram. no ~a– cnf1c10, brandos como mnhos e for tes como as te~uras de um gum– d aste de carga, o mais velho e o mais novo dos filhos, que er am a esperança dos seus sonhos em vigília. Mas sôbre a sua cabeça, de negros. ondeados cabel<;is, a dôr vogara sem deixar vestígios, r eceosa de toc~r na obra ·do Cn ad~n:. O ciúme - sombra fiel de seu próprio eu - na_o ~he deserta o esp1nto nas mais terríveis conj unções. E' seme– lhante a lamJ?ada do templo das ve<;tais, q ueimando d ia e noite a flama da ~t':!r na gr1seta. ~ m tôrno de Paulo urdiu, como o aracn ídeo tece as. f1hgranas__da tem. ~ma r êde ~-ena! de espionagem, que à ma– neira da~ ta11 a.ías de mal~as .estreitas, apanhando os peixes mais pe– quenos, r e tem os mE:nores 111c1dentes sexuais do m arido par a com êles alimentar os zelos insofridos. ' .. CI ........

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