Revista da Academia Paraense de Letras 1954

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS CASA DESARRU MA DA (A guisa de m emórias) de MANUEL LOBATO (Cadeira n. 1 ) As rem in iscências m ais recuad:is de minha meninice, q u ando sur– gem, não desfi lam obedientes a q ua lquer or dem. e se at rope lam e em– baralham dando a impr essão de uma casa desarrumada. A vezes, para que melhor se dist ingam, rebusco-as entre tantas O\,\tras, por êste ou aquêle compartimento, - onde elas se espa lham ou amont ôam sob as têias com que Gustave Dorée simbolisou ~ o demor ado sono da "Bela Adormecida" ... Dessa espécie, as que vou tentar transporta r para o papel. Com ecemos a tentativa de recompo!jição . Ainda que em o primeiro número da Revista da Ac,ldemia Para– ense <le Le tras, gener osa mão amiga haja colocado o meu berço n at al em algum ponto da ilha de Marajó, venturosa .de homens ilustres, assim n as ciências como nas letr as, em sít io mais esquecido pode ser êle pro– cu rado, se a desocupação., de qualquer espírito aventuroso encontre p r a- zer em t ão inqualificáve1 desperdício de tempo . ~ Em seringai, às margens do Madeira, ent ão o afluente lider da b acia amazônica, v i a luz do dia. O município de Manicor é estendia por essa região o seu te rritório, hoje dentr.o das lindes do de Humaitá . A minha deslocação de lá para Belém, época em que se ela de u, tudo isso se envol ve em den sa cortina de fumaça. Entretanto, recorrendo a elementos que me proporcionaram ou– t ras viagens, t alvez pudesse restabelecer, ma:s ou menos o trajeto por mim feito na dist ante puerícia. ' O .!lavio teria sido o Santo Elias, acionado a r odas como a corvêt a "Amazonas" que o Almirante Barroso transformou e~ aríete contra os vasos pa r aguáios, inutilizando-os . Belém dessas priscas éras, apresent ava um litoral lamacento ir– r eg...'armente mordido pelo ~io desa_molado das marés guajarinas. ' Não me ~cusa a memor ia a _silhue ta densa de qualquer trapich e, de sorte que nao me ocorre o meio d e que me servi para a passagem de bordo p ar a terra. 1 S\aJgum por a li ,ho lr;qsq, trepado como palafitas sôbre estacas r esistenf , _limit <;>-n:ie a conserv_á-lo 1:ª _h \pótese q ue a condiciona l favo– rece . . . ao obJetivo a pesq u!sa h1ston ca par a o alil1h amento d estas páginas . Estou ainda em 1880, e em jornais de de.z anos precedentes, li no– t ícias de fµrtos de botes e escaleres, arrancados de correntes presas a postes fi ncados à bei1·a do rio, como se vê ainda pe las margen~ do Ama– zonas e a fluentes . Gurí e u e ra, de tenra idade, a lfabe t izado já, como muitos portado– r es de diplomas, inocente do verdadeiro s ignificado das pa lavras . . . Se i que nêsse mesmo, a no, :f'.requente i uma escola mix t a dirigida por D . Ra– chel irm ã de J ose e Luiz Furtado de Mendonça, que depois se tornar am dois ' grandes comerciantes n esta p raça. Três livros me passar am pelas mãos, que eu j ama is pude esque– cer : Manual Enciclopédico, . volumoso e instrutivo, a História Bíblica e a Civilidade, de D . Ant onio de Macedo Costa.

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