Revista da Academia Paraense de Letras 1954

,--p~ REVISTA- DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS j5 ·Expressões Poéticas no Prosaismo de Nossos Códigos de LEVí HALL DE MOURA Na sessão ordinária de dezembro de• 1953, o academico Levi Hall de Moura pronunciou, de improviso, uma importante palestra sobre ·"As expressões poétícas no prosaísmo dos nossos códigos", a qual foi estenografada pela senhorinha Elga Monteiro, contratada pela Diretoria da Academia. Desse modo conseguimos publicar abaixo o notáve l trabalho don osso brilhante confrade Levi Hall de Moura. Exmo. Sr. Presidente e demais componentes da Diretoria. Preza– dos confrades. Meus senhor es. Mais uma vez não- trouxe escr ita a minha palestra. Acho de meu dever, neste momento, explicar-lhes, com humildade, as r azões deste mw~re~ • Quando -eu era academico de d ireito tive ocasião de ocupar, por varias vezes, a tribuna da Faculdade, ora despedindo a um velho mes– tre, que se ausentava, or a recebendo a jovens colegas que nos visita– vam, ora part icipando de concur sos de or atória, mas, nunca escrevia me us discursos, os fazia como estou fazendo neste momento. Pois bem, escolheram-me par a orador da solenidade de nossa colação de gr á u. Como se tratasse de um áto sol ene, entendí' que deveria escrever o meu discur so, e lê-lo, e assim o fiz. Não imaginem, prezados con– frades, e meus senhor es, que malôgro ! O discurso escr ito imobilizou– me, impediu-me que utilizasse todos os r ecursos da mímica, retirou– me a vibração que à oratoria transm item o jogo do esgar, o jogo do olhar, o jogo do gesto. Eu sou um plastico, amante das belas for mas, dos belos r itmos a que dou corpo, dos belos ritmos a que dou realidade tangível. De ms1neira que, em mim, as palavras, com a mímica, com o gesto, como que adquir em sua maior gr andeza, ou melhor, sua verda– deira grandeza, sua propriedade, sua exa tidão ! , Como materialista dialét ico, eu quero sentir as palavras nu as, vivas e livres. Além disso, o papel que eu dever ia lêr, dificultou -me a comunicação direta com o auditór io, interceptou a corrente magné– tica que é indispensavel se estabeleça entre o or ador e seus ouvintes. Prometi, então, a mim pfóprio, nunca mais lêr discursos ! X X X Percorri os códigos naturalmente como estudante de direito: como estudante p ràpriamente dito, como advogado, e, agora, pr etor . Per– éor rí-os tamb~m como- est udante de português : sabe-se que o nosso Cóq.igo Civil é uma "fontes aquarum" de correção vernáculll, que o genio de Rui Barbosa fez jorrar da r ude rocha da lei! Sthandal decla– rou tel' obtido a harmonia, a clareza e a concisão de seu estilo no manuseio constante do Códig o Civil Francês, e o nosso Machado de de Assis aprimor ou os já admiraveis dons de sua expressão no trato di uturno do est ilo chamado oficial, q ue é o estilo dos Códigos. Mas per– corri os nossos Códigos ainda como poet a, e ao lon go de suas áridas e prosáicas t rilhas encontrei t odo um verdor de poesia, toda uma flora– ção lírica! E é essa braçad a floral que me dispuz a vir trazer-vos nest~

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