Revista da Academia Paraense de Letras 1954
r 14 REVISTA DA ACADEMIA PAitAENSE DE LET},(AS Dois Sonetos de RODRIGUES PINAGÉ SILt:NCIO! Da Necrópole a um canto, apontando os espaços, com um mastro de nau submersa, entre procelas, vi um 1·esto de cruz que ali perdera os braços, sem Jesus e sem flôr, sem anjos e sem velas! Chão razo. Nem sinal de sepultura ou traços de alguem que ali dormia, à luz das noites belas ; Nem ciprestes gemendo, em lúgubre.s compassos, nem tristezas de creança ou prantos de donzelas ! Nem grinalda de lírio am.argurado e rôxo, nem os braços da cruz para velar-lhe o sôno e onde, à noite. pouzassc e soluçasse o môcho ! Quem me dera, amanhã, no horror das horas mortas, essa paz excessiva, êssc ete1·no abandono, ah·avés das mortais e tenebrosas portas !. O BARBEIRO Pigmalião não és, nem Perseu, de Meduza. Tens, no entanto, o pendor de estatuário divino! Dás ao severo ancião as feições de menino, transmudando-lhe o rosto aponilhado que usa ! Se o pente é teu buril de estilo florentino, teu cinzel é a tezoura em trejeitos profusa ; Da Beleza e da Graça és cu.Itor peregrino e achas na Perfeição a encantadora Musa ! A golpes de tezolll'a e a golpes de navalha, devotado e gentil tonsuras-me o pescoço e afogas em sabão minha barba grizalha ! E, contra as leis ele Deus, contra as leis do Evangelho, saio de tuas mãos, com o semblante de moço, na bemdita ilusão de nunca mais ser velho l
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