Revista da Academia Paraense de Letras 1954

124 REVISTA DA ACADEMIA PARAENsg DE l.r!TRAS zindo três ou quatro vacas, servindo à freguezia, leite tirado na ocasião. A doca do Reduto era, como uma f:rande piscina, que ia até o quiosque-bar "3 de Maio" . Quando a 1~1are estava cheia, as canôas iam atracar na Rua 28 de Setembro. . . . Logo após as oficinas da Companhia do Amazonas, que ter– minavam onde foi o altar do Congresso Eucarístico, seguiam as ofi– cinas ou estaleiros de construções navais, de Caniceiro da Costa & Cia., que iam terminar na Doca . . . . Onde está o Colégio Gentil Bitenco 1 Jrt, era um terreno cer– cado de taboado. Ao tomar oosse do Govêrno, o dr. Augusto Montenegro, mandou ali construir o atual palácio, para nêle instalar 0 Colégio do Amparo, que funcionavé'. onde está a Polícia Civil. Esta por sua vez, ocupava o atual prédio do Tribunal eleitoral, o qual, deso– cupado, serviu à Delegacia Fiscal durante muitos anos. O Quartel Ge– neral era na Trav. São Mateus, onde se acha o Colégio Santa Rosa. As noites de quartas e sábados havia em frente a êle, concertos pelas bandas de músicas conjugadas da guarnição federal. Por ocasião dos Conflitos Militares, o General Calado. <'Omandante do Distrito, foi com o Governador Montenegro, concertar orna medida para acabar com os motins. O gove rnador' mandou chamar o Comandante Fontoura, na frente do general. Êste ciente, Propôs baixar uma ordem do dia, em que ameaçava com cem chibatadas, a qualquer- soldado que brigasse, com ou sem razão. Montenegro concordou. O generaL prometeu o mesmo. E os conflitos acabaram de vez . . . . O Dr. José Paes de Carvalho, governador do Estado, ao findar o século, era um médico de grande popularidade, forte de com– pleição baixo, calvo, bigode alourado, tês bl·anca. Residia na Rua Manoel Barata, nesse tempo, Paes de Carvalho, - num velho sobrado 9e azulejo, junto à Fábrica Palmeira. Tinha estudaqo em Portugal, por isso, quando apareceu como representante do Para numa das legisla-– turas federais, houve um deputado que disse : "Aquêle deputado é português ! ". devido a sua pronúnci;:i lisboêta. Costumava passear a pé pelas ruas da cidade. Ao deixar a governança, amigos lhe ofereceram o palacete, onde está a Pensão Suica. . . . Naqueles tempos a Festa de Nazaré representava o maior acontecimento social da Amazônia. 0 Cfrio tinha muito mais prestígio popular que nos tempos presentes. Nele, havia a liberdade plena da tu.Tb,a. se manifesta r , de acôrjo com o seu ~entir e sincer~ ingenuidade. O Cino nasceu do povo, e nad do clero. Pois houve um bispo Dom Iri– neu Jofily, que entendeu que o Círio n ão ia bem ; e o apôio do Gover – nador Dionísio Bentes, que anuiu de bôa fé, _:_ transformou o grande Círio tradici onal, numa procissão da igreja. Houve um geral descon– tentamento. Porque havia fé e respeito. mas a modo do povo. ► . . . Há cinquenta anos Belém não tinha automóvel, nem cami– nhão de carga. Possuia sim, carruagens d e vários tipos : Landaus Coupés. Limousines, Faetons, l!arros ele praça, "andorinhas", as anteces~ soras do caminhão ; e os cavalos d e raca, montados por senhoras e ca– valheiros d a a lta sociedade. As parelh?s de luxo e as quadr i1:ws à "dau_!Tlont" davam sun– tuosidade às viaturas. NO!> casamentos,. nas i:_ec~pçoes,. nçs corso!>, e nos funerais, as carruagens tmham uma 1mponencia rna1~ 1mpress10nante. Hoje a capital paraense acha-se de posse do cmema fal ado do rádio, do telégraf_o-s~m-fio. da elet rola, do_ automóyel, da motocicieta, d o avião, do ca:],,inh ao, e de urna p~mulaçao, em dobro. Mas os áureos tempos do comeco_do seçulo, quando tudo eram e ranças e fé num mundo melho1:. nao mais voltar~. esp Principalmente porque ela deixou d e S!'!r o ernpono da borracha. A sua população cr~sc,e u , e por u".!1a le i natural, os seus recursos dimi n uíram. Os seus admm1stradores nao souber_am fa~er acompanJ1ar 0 seu crescimento, com o ntmo de unia produçao eqwvalente. Dai, o mal estar geral,

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