Revista da Academia Paraense de Letras 1954

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS Providência, o Chat Noir, o Chinez. o Café Madrid flamejavam cheias de costante multidão. . · Demis-mondaine ricamente vestidas e carregando jóias de preço, ostentavam suas belezas nas terras5es borbulhantes. O champgne es– poucava nos bares, e os comerciantes donos de seringais opulentos, e corretores de negócio, exibiam jóias caras que cintilavam às luzes. Era assim, como um reflexo longínquo de Paris-luxo, mulheres e música! Os grandes globos brancos da luz elétrica dos arcos voltaicos, piscavam às vezes, n a sua claridade abundante, iluminando os logradouros públicos. O Sport Clube lá em Nazaré, e o Clube Universal, na casa que fica junto à Assembléia, eram o centro aristocrático das familias, precursores que foram da Assembléia Paraense. Com uma população muito menor que a atual, a cidade devido a abundância de numerário parecia ter muito mais vida. Mesmo porque quando não havia Festa de Nazaré, a animação se circunscrevia ao Largo <le Santana e à Praça da República. O Largo de Sant'Anna era ajardinado, tendo um gradeamento em volta das plantas. Na esquina à sua esquerda ficava o Café Central, o melhqr salão de bilhares daqueles tempos, tendo sido êle dez anos antes, o ponto chie de Belém. A Rua d a Trindade era a artéria tradicional dos corsos e passeiatas, fazendo-se o trajeto por ela, para o Largo da Pól– vora. Mas nela é onde:se encontravam ris maiores casas de jôgo, as mais ricas pensões alegres, as inais ostentosas "repúblicas", os melhores clubes de dança do "bas-fond". Um dêsses dubes, o "Reforn" ficava-lhes a poucos p assos, na Rua 28 de Setembro . . . . Com uma população muito n1enor, a cidade parecia ter mais vida. O ouro negro multiplicava as fortunas, os filhos das familias abastadas iam estudar na Europa. Os paauetes da Booth, Red Cross, Companhia Italiana de Navvigazzioni, Hamburg-Anterika-Line, e outras, de navegação transatlântica, descarregavam periódicamente em Belém, as novidades artísticas de Paris. e as úl timas notividades lite– rárias publicadas ou traduzida, em ?ortugal. . . . As casas aviadoras oara a Amazônia eram colossais : Melo & Cia., B. A. Antunes & Cia .. Montenegro & Cia., Guilherme Au– gusto de Miranda Filho~Frank da Costa, Marques Braga, Alves Braga, Oliveira Andrade, A . .t:Sernaud, tinham grande reputação. As compa– nhias líricas internaciona is sucediam-se com pequenos mtervalos, e se exibiam no Teatro da Paz, com casas ?,eralmente, à cunha. . . . Duas instituições desaparecl:!ram dos largos da capital pa– raense, e que faziam ponto de honra, quando nasceu o século que atra– vessamos. Eram os kiosks e os mictórios públicos . Os kiosks eram de madeira, elegantes, pequenos, instalados nos cantos das praças, e em alguns cruzamentos de ruas movimentadas. Neles vendia-se de tudo, desde o completo d e café, pão, chá, bebidas. tabacos, etc, ao leite, às qua lhadas, ou outras leves r efeicões. Funcionavam dia e noite. Os mict órios existiam nas melhores oracas. Eram higiênicos porque pos– su\am esgôto natural. Aceiados. Vedados às vistas por umas placas d e ferro. Acomodava às vezes 4 ou 5 necessitado&. e tinham várias en– tradas e saídas . Não há dúvida que exprimiam foros de civilização. Mas pensamos, que e ram mais, questão de há bito. Hoje não fazem fa 1 ta. Tais quais os escarradores nas l'eparttições. . . . Tôda a cidade era servida por veículos de tração animal, havendo os de bitola estreita, e os de bitola larga. De bitola larga h_avia CÍ1!CO lin]rns: Praça da Rept\bl ica, M?rco, Santa Izabe!, Uma– rizal e Sao Jose e uma suplementar que subia a Boulevard ate à Rua de Belém. Os d e bitola estreita er am: Batista Campos, São João, Bagé, São J e rônimo. Os galopes dos burros ou cavalos ,e os estalidos das mu– xingas dos bolie iros davam nota característica ao movimento das ruas. . . . Em Belém, tôdas as tardts dos dias úteis, saíam de tôdas as padarias, precisamente às 4 !10ras. padeiros tocando cornetas, com cestas de pão quente às costas. Eram esperados ansiosamente ém tôdas as residências, vendendo os pães comuns. massa fina, ou bolacha, de que as famílias faziam grande consumo. Também, pelas seis da manhã ouviam-se toques de campanhias pelas ruas. Eram leiteiros condu-

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