Revista da Academia Paraense de Letras 1954
, REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE m~ :..E'fRAS 11!) ria F igueiredo. O roubo da Pêndula Americana, numa façanha à "Ar– sen e Lupin" ; o crime do Largo dos Quartéis ; o assassinato de Leonardo Meira, às portas da "P ensão Americaria". onde funcionou "A casa do Italiano". à Rua Manoel Barata, outrora Pais de Carvalho, eram casos que traziam a cidade alarmada. No -e1 1 tanto, a Polícia Civil era de fato. O chefe, desembargador Tomaz Ribeuo -era ríspido e máu. Os agentes Dória, Gortdim e Samico, verdadeiros raposas, traziam sobressaltados todos os meliantes. . Quando da Campanha de Canudos, lá se foi a Milícia P araense, composta nessa época, de quanto antigo cangaceiro e aventureiro, havia que, desiludidos dos seringais, ingressavam nas fileiras para ganhar o pão. O que foi o concurso dessa t r !Jpa, representa uma das páginas mais brilhantes das nossas tradições b~licas . A fôrça do P ar á, chefiada pela bravura do Coronel Vieira da Fontoura tipo completo de soldado q,1ase na maior parte constit uida de antigos sertanejos, nos sertões da Baía, contra Jagunços, obrou prodí– gios de r esistência e arrôjo, destacar.do -se das demais fôrças ex– pedicionárias . Como se disse. o elemento nordestino dominava em alguns su– búrbios pobres de Belém. Por natura1 psicologia dos povos, as gentes nativas costumam repudiar os adventícios humildes, imigrantes vindos de outras terras . E os cearenses e seu~ companheiros de miséria, eram desdenhosamentes tratados pelos filhos do Pará, que não queriam reco– nhecer neles, as qualidades de orimeirn ordem, que lhes ornavam a enfi– bratura e o caráter. ~fosses idos, 1900, a população co, servadora de Belém, que ia por umas cem mil almas, - além das imigrações nordes-tinas referidas, era caracterizada pelo português, n a sua maioria, homens ; visto que as mulheres lusas não vinham com medo da febre amarela ; pelo caboclo tapuia , e 'pelo preto . A raça negra tinha numerosos especimens em Belém, numa pro- l' porção de cem vezes mais que atualmente. Eram negros por tôda par te, vendedoras de tacacá, amassade1ras de assaí, lav adeiras, doceiras, cozinheiras, pedreiros, pintores, aneú ,os de tôda a espécie. E quando em gala gostavam imenso do traje branco; os homens de br im "H J.", en gomado, duro como cartolina ; e as rnulheres, com saias de roaa, imi– tando a crinoline. Estas, então, u sav.,m ouro em profusão : cordões, me– dalhas, broches, brincos, aneis ... Tr'lziam sempr e sandálias de salto alto, e andavam nas pontas dos pés . Usavam penteados altos cheios de cheir os excitantes, e tratavam-se por "Nha Fulana", "Nha Sicrana" . .. Enchiam os bairros do Ladrão, Umai'izal, J urunas . .. Os seus diverti– m entos eram os bumbás, os cordões de maruj os, os batuques. Os f ilhos da terra, os caboclos tinham quase que vida à parte n esse fer vilhar de alienígenas . Com êies se uniram os primeiros portu– gueses que chegaram ao Pará, formantio as principais famí lias locais. Os primeiros homens ilustres que o Pará teve eram filhos dêsse cruza– mento . Os caboclos mais pobr es dedir::w am-se geralme nte à profissão d e embarcadiço, quando, não se achas~em .r adicados na cidade, por qualquer propriedade imóvel. Era geaLe morigerada, de hábitos retraí– <:}os, sendo os mais puros, possuidores óe uma pronúncia cantante. Gente inteligen te, desconfiada. e de fisionomia alegre ·e comunicat iva, de pro– n_unc1ados traços mongólicos, apesar de ingênuos, tinham uma arte par– ticula r em sab er enganar. Oriundas das ilhas do Baixo Amazonas, as famílips tapúias, foram sempre de arraigada fé religiosa, sem de ixar de u sar os ~eus feitiços e pajelanças . P opulação aliás, displicente e pouco progressista. . 11:stes três elementos, o Portug\lés, o Caboclo e o Negro produ- Z!am um tipo, que, apesar das boas qualidades intelectuais, se car:i.cte – rizava por profunda a patia e quase au~encia de instinto econômico. Para IS§O devera ter muito concorrido, a fartura da terra. Os portugueses n ao contando aqui com as mulheres de sua raça, vindos dos campos' sendo portant homens rústicos, para ler quem lhes ajudasse se amazia~ vam com as pretas. Por isso hav1a, primeira...mente no Pará, as duas
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