Revista da Academia Paraense de Letras 1954
118 REVISTA D A ACADEW.IA PAnAENSF: DE J.,g'J'ft,\S usavam de brutalidade sem par, para c:om os pobres caboclos. Isso acfr– rava os ódios. Batista Campos foi um verdadeiro tipo de herói. Destemeroso, abnegado, amante da ralé, tinha S?. revoltado com o gráu de inferiori– dade cm que viviam os seus patncios os verdadeiros donos da gleba. Morreu foragido, num sítio . em Barcarena, por ferimento recebido no rosto, o qual grangrenou. Em 1900 a Avenida Independênda já era uma estrada calçada de matacão, despida de árvores, servindo de tráfego-às maxombombas para o Marco da Légua e para o Cem1té,;o. Elra tôda marginada de mo– cambos e palhoças lóbregas que só tJveram fim no Govêrno Dionísio Bentes. Só tinha de notável o Museu Goeldi, de fundação recente. no comêço da via. Defronte ficava um mercadinho, na esquina da Vila Teta. Nas travessas que a cortam. e cue formam o bairro chamado de São Braz. pululavam população de nordestinos, tanto, que a atual Trav. 3 de Maio. se chamay!l Rua c~arense_. Quer;n vinh~ dos velhos bairros conservadores da Cidade VeU,a e Sao J ose, sentia-se quase desambientado pela diferença dos co~tumes. O elemento do Nordeste dava a essa outra parte da populacão belemense, um modo de vida todo diverso do que se via nos outros trechos urbanos. Pequenas profissões desusadas, gente vivedoura, prolífica, com uma pronúncia arrastada e ingênua, e)Cl)ansiva, espalhava-se em bar– raras modestas. cobertas de palha, aigumas bem 1.impas. -em frente as quais. as famílias inteiras, às tardes, E:! às noites, se reuniam em comu– nidade a lacre e comunicativa. Em todo o percurso da grande a, 1 éria. (Independência,). se desen– volvia todo um pequeno comércio de subúrbio : carrinho de mão com víceras e carne salgada, se viam parados à beira das calçadas. Tabolei– ros com .roletes de cana, pés de moleque, cuscús, pamonhas, espigas de milho verde cosidas, bolos de arroz. tapioca,s com côco. carimans, pupu– nhas cosidas, fatias de melancia, gigib:rra em garrafinha, potezinhos de mél, tudo formando um verdadeiro macrocosmo de arrabalde. Logo depois da Campanha de Canudos, a lguém que t ivesse an– dado por aqueles s~rtões, sentiria vi_vas reminiscênçias, se de repente. se visse em convívio naquela colmeia, ou com habitantes do bairro Canudos. para onde aos poucos .foram sendo impelidos os nordestinos mais nobres. Isto é, do bairro de São Braz, aue se ia lentamente civilizando para as trazeiras da estação de Estrada de Ferro. ' O novo acampamento começou nela Avenida Ceará, que ainda hoje conserva o nome, fazendo ali. tudn lembrar o Arraial fatídico . Mas em que se qcupava e11s~ gente? - Constituíam a maioria dos pretoria~ nos do Regimento Militar do Estado : e ram a quase totalidade dos trabalhadores da Estrada de Ferro de, Bragança ; então fervilhando de colonos cearenses ; compunham nela metade, o quadrn de baleeiros e robradores_da Comp~nhia Urbana de Viacão :_ forn:iavam a maior parte dos batalhoes federais : 4. 0 • 15. 0 e 36. 0 : depois, saiam de la os vende– dores d e arroz d9ce_. ran.adura,3, rend~ e outras indústrias, 'e- os demais mesteres de comercio aC'1ma c1lados. Os paraenses de origem estra111,avam aqueles hábitos pobres dos imigrantes do Nordeste, os qua is constituíam na concorrência pela vida uma forte comunidade de lutadores . ' Nessa época, devido à influên<:1a dêsses antigos habitantes das caatingas, os assassínios em Belém er1,m frequentes. Crimes sensacio– nais alvorqcavam ~e quando cm vez O!:o tranaui19s habitantes da Capital. Havrn conflitos entr e os soldadci: da Pollcia e do Exército O crime do Bosque, o assassinato de Artur Franco, na Vila Teta às ~ horas da madrugada, depois de urna noite de arraial. O caso do dr'. Pontes de Carvalho. O linchamPnto do cabo Paim - um valente, - na Rua Oliveira Belo, por prácas do Esquadrão de Ca\'aJaria. ·estarreceu a cidade. O cabo foi a tacado, em represáliii. Brigou a té cair exanime. ferindo _gravemente dois dos seus agressores. Dias depóis, soldados do Exército por vingança, trucidavam um furriel de Cavalaria, às portas da Fada~
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