Revista da Academia Paraense de Letras 1954

REVISTA t>A ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS o Rio, abandona interêsses, afeições, jornal, contra i dívidas, sacrüica-se, desatende a tudo, r etira-se para o subúrbio e dia e noite, trabalh a na r ealização do seu sonho. Enfim, o balão toma forma, cresce, está quasi pronto, já tem nome, E' o Santa-Cruz, um complicado engenho, que não vôa. Patrocinio te ima, persiste, súa, tressúa, exaure-se, exgota-se; O dinhe iro escasseia. Foge-lhe a saúde. Tudo lhe foge. Até a Vida. Era o declinio, a descida, a agonia, o aniquilamento. .Mas não estava de todo impotente, vencido, aniquilado. Procura r eagir, volta ao jornal, escreve. J á n ão tinha mais o Ci– dade do Rio. Mas escreve no P aís, no Diário, como simples assalaria– d o, pa ra viver e sustentar a familia. Enfrenta assim a probr esa, a miséria e ainda tem lampejos de gênio. Um dia, no Teatro Lírico, saudando Santos Dumont, as fôrças lhe faltam e cai, golfando sangue, preso de um h emoptise. Depois ... . ....... .. . · Fôra melhor dizer como Shakespeare : Depois é o r esto e o resto é silêncio. Rest is silence. Deixai porém que fale ainda, êsse que rece'.:)eu no sangue, um pouco do seu gênio - José do Patrsocinio Filho: "Então começou a agonia. Dois anos. 1 Vegetamos pelos suburbios. Durante meses mor amos num bar– r acão, onde o vento assobiava pelas frinchas das tabôas. As vezes, não h avia com que mandar avisar as receitas do seu médico. No oitavo dia que se seguiu a sua morte, nós desocupávamos a casa em que êle morrera, em virtude de um mandado de despejo". Uma hemoptise, quando escrevia um artigo para o jornal, e os seus olhos, pela última vez, lampej am, brilham e fitam a vida, e como o sonhado de Samain, diante da Quimera : Mais l'homme dont le sang coule à flots sur la terre, Fixant toujours les yieu x divins de la Chimere, Meurt, la poitrine ou verte et sourient encore. Era o fim. Mas não falemos do seu fim, da su a queda, de sua morte. Evoquemos a penas a sua Vida, curta, mas trep idante, ruidosa, tentacular, exuberante, como a de um semi-deus de t ragéd_ia grega, e o seu Sonho e o seu Gênio, indestrutíveis, eternos, porque se confun– diram e identificaram com os destinos de uma Raça, com as r evindica– ções h istóricas de um P ovo, com a própria glória de uma Patria. A INStGNIA DA IMORTALIDADE Nn forma dos Estatut.os em vigor, os sócios efe tivos e pe rpétu os da Academia P a r cnsc de Letras passarão n usar, de agora em diante, a insígnia da Imor talida de, nas sessões solenes e nos grandes acontecimentos públicos . O cliché acima mostra a Insígnia da !mortalidade, em prata e ouro, admirável trabalho do ourives ' ---- A. Mlralha ----

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