Revista da Academia Paraense de Letras 1954

11 0 R'E:VtSTA l)A ACADEMIA PAtlAENSE t>E .:..ETRAS MARIA con to de RAUL DE AZEVEDO ( Socio correspondente no Rio) A delivrance de Maria estava na hora. A tôdo o momento a fa– mília estava esperando o bébé. Meni~o? Menina? Era o primeiro filho, e havia discussões íntimas e cordiáis, e palpites. O pá i, advogado Dr. João José de Cerquiera Pinto, queria uma menina, a espôsa menino. O nome seria Maria da Graça ou J orge. Discutiam. Apostavam. As tor– cidas dos parentes - quasi todos mulheres - et am por um r a paz, e elas lá sabiam o "porquê". E que ser mulher é muito complicado não só mensalmente, ou anualmente quando vem o filho. Mariada Graça Cerqueira Pinto era uma bonita moça, irradiando simpatia, alta, desen volta, moren a, elegante, um pouco auforitária, m as bem educada. Olhos· gr andes e profundos. Casar a-se por amôr? Não t anto - simpatisar a com o moço - ela vinte anos, êle trinta e cinco - ótimo sujeito, e suficientemente rico par a ser ambicionado. Toda famí– lia queria por que quer ia, pái, mãe, irmãos, aquêle enl ace. • E Maria estava ' naquela idade per igosa em que o san gue parece est ar mais forte nas veias. Casou. Mas logo depois. um mez se t anto, compreendeu que aquêle homem não era para ela. Bom, educado, fino, atencioso, dava– lhe tudo - r:pas é que os temperamentos eram muitíssimo diferentes. Noite e dia. Ele era um homem de estudo, de gabinete, sempre com m ontão de autos, a trabalpar até meia noite, duas horas da madrugada, e recolhia-se ao leito, fatigado. · Maria era dum temperamento ardente, t oda ela volupia. Trans– bordava luxur ia. Lia um pouco, faziam um bocado de música - era pia– n ista - e com uma bôa governante a casa n ão lhe dava cuidados. So– nhava . . . sonhava acordada o que é pior. Comparava o marido com os am igos - e q uando elas principiam a comparar o uso interno p erde sempre, pois não conhecem as falhas dos de seu uso externo - e o seu pensam ento talvez involuntariamente foi para o dr. Edgard - Edgar Miranda de Botelho Bomfi1!) - médico, not abilidade em cirurgia par – teiro de renome, chefe clm1co duma das nossas Casas de Saúde espe – cializadas, na zon a sul. O dr. Edgar, mJ.1i~o simpático, muito falante, sabedor de mil e uma . anedot as E: mestre no .c:h_ze-las, er a con viva in t imo da família, solteir ão, trinta e c!n c'? anos, ~iaJado, ~i:rso~ e;11 Paris e New-York, e um p ar– teir o esplend1do e assiduo no Jogo mtimo. E como homem era corr éto, a té o possível. O casal quasi nãp saia_. J ogava um pouco o poker, até onze da noite, com a sogr a - esse bicho muita vez injustiçado, e o fascinante doutor Edg ard. Eles estavam casados ha mais de ano, e nem s inal de bébé ! Maria sofria_ e revolto.va- se, a rdendo em desejos, e vivia com a ân– sia de ser mae, por que gostava de creanças e t odas as suas amigas ti– n ham filhos, exceção d as solteironas. E tinh a explosões, momen tos de luxuTía inacabada. Or a, acon tece que numa noite em que jogavam ela admirava ma is intimamente o doutor Edgar, a sua elega ncia - porque o homem ver – dadeirnmcnte educado se conhece hem no jôgo - e casua lmente _ ah! que ha ele mais casual ! o seu joêlho .bonito t ocou no do médico, que na suposição de ser apenas_ um movimen to de côrpo, afast ou s uave– m ente a perna. Mas é que, dois minutos depois, houve outra coinciden-

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0