Revista da Academia Paraense de Letras 1954

108 - REVISTA DA ACADEMIA PARAENSG: DE !,ETRAS Em outro capítulo de sua vida fala-nos; do cheiro de latrin~s recordando passagens dos castigos impostos por sua mãe. Na sua poesia "Venus Anadyómena" - escrita aos 14 anos de idade, descreve uma mulher saindo núa do banho, e, que leva escritas na região lombar as duas palavras: "Clara Venus" e que exibe nas suas nadegas for– mosas, horrivelmente uma ulcera no anus. "Em Ophelia"; Rimbaud descreve uma mulher que morre por haver desejadó a liberdade e o amor . Como vemos senhôres acadêmicos, as poésias do neurótico Rim– baud, estão estigmatisadas pelos sofrimentos infantis recalcados e pelas regressões psico-sexusuaes, saturadas de um sado-masoquismo, típico de seu psiquismo morbido e, que se agravou c0m a vida homosexual levada durante anos com seu amigo poéta Verlaine. Em inumeras de suas poésias encontramos o significado psicoló-. grco de s uas fugas que fasia quando criança e que eram severamente castigados por sua mãe. O próprio psicoanalista Angel Garma é de opinião que as fugas de Rimbaud são uma tentativa no consciente de buscar um ambiente em que ·seus instintos possam ser satisfeitos· mafs normalmente, m.ais livremente e com menos inhibições do que havia sido permitido pela vigilância materna. Se desde o ponto de vista da família, e da sociedade, as fugas de Rimbaud são um ato de rebeldia, sob o ponto de vista psicológico são também tentativa de encontrar a nor- . malidade psíquica. São portanto uma tentativa de cura. Mas as fugas são tentativas adequadas para conseguir a normalidade psíquica ? Inegavelmente não ; as fugas não poderiam nunca solucionar os con– flitos de Rimbaud. Há outros fatores, determinantes de suas fugas. Uma delas é a sexualização da natureza. Para Rimbaud á natureza apresenta analogias com a mulher a qual em certo modo a substitue psíquica– mente. Pois como sabemos o poéta de o "Sol e a Carne", era um "ura– nista" ou seja um "invertido sexual". Eu quisera ter, repito, o instinto poético como tenho para a cirurgia e psicologia humana, a fim de exal– tar a beleza desse poema nos seu sentido puramente dP. crítica e de arte. Mas, como não me é possível fazê-lo, passo a dissecá-lo psicoana– liticamente mostrando as analogias que existem no inconsciente do ~u– tor, entre a natureza e a mulher. Para que se compreenda o sentido psicológico desta poesia "O sol e a Carne" é preciso, citar as palavras do poéta. "O Sol se levanta e se embriaga de raios ; A terra meio núa feliz de reviver ; Tem calafrios de alegria aos beijos do sol O Sol fóco, de ternura e de vida Derrama o amor candente na terra encantada É quando se está deitado no vale se sente Que a terra é nubil e que transborda de sangue Que seu seio imenso levantado por uma alma É de amor como Deus de carne como uma mulher E que encerra cheia de seiva e de raios :ll:ste grande formigueiro de todos os embriões Mas o amor infinito me subirá à alma Irei longe muito longe como um cigano Pela natureza feliz como com uma mulher Tenho abraçado a aurora do verão . O sentido psicológico dêsses poemas nos mostra que Rimbaud era uin invertido sexual tanto assim que renuncia definitivamente o amor das mulheres despresando-a fisicamente, insultando-as e dese– j ando-as a morte . Mas inconscientemente êle ama as mulheres simbo-

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