Revista da Academia Paraense de Letras 1954

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE D ,; LETRAS 107 :ll:ste conflito psiquico, passado entre a vós da sua consciência que é o Super-Égo e a vós de seu inconsciente que é o ld, originou a sua "Neurose" e sua "Histeria" dedusida e confirmada pela sua re– pulsa sexual e exteriosada no dialago com Ofélia. Hamlet é em verdade uma fantasia do genial criador do poéta mas que nos revela sem dúvida nenhuma o nodulo da neurose de onde se originou. Como tão bem esclareceu Freud, a criação Shakespeareana mostra a vacila– ção de Hamlet em cumprir a v ingança que lhe fora: imposta pelo seu Super-Égo . Contudo de acôrdo com a op,inião hoje dominante e emi– tido por Goethe. Hamle t é aquele tipo de homem cuja fôrça e ação ficam paralizadas pela exuberância do desenvolvimento intelectual. Outras opiniões, menos gener alizadas, embora, explicam uma tal ati– tude a través do cará ter doentio, indeciso, vacilante, roal'cadamente neurastenisante do per sonagem. Freud, entretanto megulhado na tra– ma da tragédia pôde demons trar que Hamlet n ão deve ser considerado de nenhum modo como um homem incapaz de tôd a ação. Duas vezes o vemos diz o criador da P sicoanalise, agir decididamente, uma delas até mesmo com grande arrebatamento e outra reflexivamente, quando respectivamente matou o espião oculto atraz da cortina e quando mata os dois cortesões que tinha a incumbência de assassiná-lo. Qual então o motivo que o impede de levar a cabo a execução exigida pelo pae ? Hamle t n áo é desse modo um .espírito indeciso senão quando tem de se vingar do homem que usurpara o trono ·e o leilo conjugal de seu pae. O ódio que o impulsiona para a vingança substitue-se em Hamlet \JOr censuras que êle senti existirem de n tro de seu p1;óprio íntimo . Vê-se inibido por escrupolos de consciência os quais lhe advertem ser êle próprio responsável pelos mesmos delitos, pelos quacs se acusa o ~ei Cláudio, e para os quais pedem a êle Hamlet que o castigue . Hamlet e des ta ar te, vítima de um "Complexo de Édipo". Na literatura fran– c~sa encontramos a figura poética de Artur Rimbaud, chamado por Victor Hugo "O Shakespeare menino", e, que o psicoanalista argentino, Ang~l.Garma faz um estudÓ psicoapalítico de sua vida e sua obra no seu &d:fl1iravel livro "Sadismo e Masoquismo en la conducta". O autor ps1coanalisando a vida e a obra do grande poéta francês chegou a con– clusão que suas poesias além de s,imbo!izarem o "Complexo de Édipo", refle te1:1 também a vida infantil do poéta recalcada de sofrimentos e regressoes exesua is . O pae quasi continuamente ausente e, a influência do tempera– mentC? frio de sua mãe, muito influio na formação do caráter e do psiquismo de Rimbaud. Em sua infâ ncia sentiu-se desgr açado e aban– dona~o por sua mãe. Como prova inter essante que confirma esta hi– pote~1s, temos uma de suas primeiras poesias em que descreve a de– s!luzao de dois órfãos que n a última noite de ano sonham com o c,– rmho de uma mãe que lhes da calor e presentes e que se despertam sós desiludidos em uma habitação fl'ia. Os versos : "les enfants sont sans mére e t le pére est bie n loin .. . les petits froid, ne dorment pas, ~m t_ peur"' . . . êstes simbolos poéticos podem muito bem aplicar-se à mfancia de Rimbaud em que o pae vivia realmente muito longe e fal– tava o ca rinho de uma mãe. Como a realidade em que vivia er a apta par a satis fazer seu desejos, êstes trasiam uma satisfação· na fantasia. Em sua_infân cia, sua sexualidade apresenta um marcado caráter sado– masoqu1sta. Ao mesmo tempo que a sexualidade infan til de Rin1baud apresenta os e lementos sado-m asoq1,is 1 :i~. existem também os com– pon e1Jtes anaes, Angel Garma fazendo a biopa togr afia do genial poéta fr anc~es, conta-nos que Rimbaud tinha 8 anos, quando lutando com uma Jovem sua vizinha mordia-lhe nas nadegus 2 que horas depois cm seu quarto ainda sentia o sabor de sua carne,

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