Revista da Academia Paraense de Letras 1954

106 REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE U.l'!?AS em seu ótimo livro Doença e constituição de Machado de Assis. Lúcia Miguel Pereira, fazendo a biografia do autor de Quincas Borba, no capitulo referente a "Helena diz": Também Helena era co1;10 Guiomar da "Mão e a Luva calculista e estuciosa. Mais sencível porem do que ela, não esquecia o passado e as escondidas mantinha relações com o pãe". Se o livro não tivesse sido bruscamente desviado pelo tempestivo amor oficialmente incestuoso certamente uma vez de~– corbeto o embuste por causa das visitas clanlfestinas da moça, a fam;– lia a que se apegará e renegara;, e ela expiaria assim a fraquesa de ~ao ter sabido dar-se tôda a ambiçao. Pagaria, afinal, por não ter querido abandonar inteiramento o pae. Voltaria a probresa, á obscuridade; agarrada a um testroço do passado ao pae miserável que ficaria mais desgraçado vendo o malogro da filha Helena, a filha adotiva do Con– selheiro Valle, preferiu deixar o conforto e o bem estar de sua casa para seguir inconsciente o conflito psíquico de seu inconsciente que era a fixação paterna. Na obra genial do poéta inglês Shakespeare - "Hamlet" en– contramos a grande tragédia de Édipo. Mas nem o escritor, nem seu auditório tem consciência desta relação causal, puramente inconsci– ente. Todos vós melhor do que eu conheceis esta obra prima da lite– ratura inglêsa, porque comCY literatos e poétas que sois, podere is com– prender verdadeiro senso artístico de monumental creação de Sha)~es– peare. De minha parte por faltar êsse senso artístico, indispensável para o conhecimento <!a lite,ratura, concebi apenas o valor psico-patológico da obra, em relaçao a Neurose compulsiva" de seu creador. Como es– tudioso da Psicanalise, senti o conflito psíquico que originou a tragédia de seu livro: a fixação do amôr ·materno, o ódio ao pae e a r econ– ciliação do filho. Quando Shakespeare escreveu Hamlet, havia um ano que seu pae falecera; portanto, o autor deixa transparecer no personagem que criou, não apenas um produto de sua fantasia in– fantil recalcada mas, também o complexo de que era vítima - O !!:dipo infantil. Quando criança desejou sua mãe e odiou o pae. Du– rante a juventude Hamlet num dos seus senhos de vigília ou acorda– dos de que nos fala a Psicoanalise, imagina em seu sub-consciente a aparição do espírito de seu pae, pedindo vingança por sua morte. Mas de que maneira se processou êsse conflito psíquico ? Eu concebo e esplico da seguinte forma: - Hamlet fix ou inconscientemente o amor materno adquirindo o complexo de Édipo. Depois, com a formação do Super-Égo, reconciliá-se com o pae. A idéia da fantasia da aparição do espírito do seu pae, pedindo vingança de sua morte, passa-se no Égo consciente, por que nós sabemos perfeitamente que o Égo e um escravo de dois ?mç,s, serv!ndo ambos ao mesmo tempo ao "Id" e o "Super-Égo, Logo a 1d_e!a ~e vmgança contra seu padrêsto ' rei Cláudio, originou-se da reconc1haçao com o pae. No entanto porque motivo que Hamlet ha– vendo conhecimento da verdadeira morte de seu pae negava-se a tomar vingança contra o assassino dêste? É porque vê refletida numa outra alma o rei Cláudio, do qual tem que se vingar, os mesmos sentimentos que obrigou, pois também o rei Cláudio desejando sua mãe odiara-lhe o pae, não teve fôr ças de punir o novo detentor do trono e de sua mãe, porque o seu " Insconsciente", culpava-lhe do mesmo deli to e assim o inibia da ação vingativa. Eis portanto o Égo servindo aos dois amos, l!:go-consciente, recebendo or dens do Super-Égo para que se v ingue da morte de seu pae ; e, o Égo-inconscien te recebendo ordens do "l d '', a fim de não cumprir a ordem do Super-Égo, porque êle er a complice do mesmo homicídio. Esta contra ordem do "Id", era a vós do com– plex o d e Édipo, fixado inconscientcm.ente no an1ôr ma terno. .fl J

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