Revista da Academia Paraense de Letras 1954

REVISTA- D A ACAUBM:IA PARAEN,E J;)E 1.ÉT~ AS ioS a loucura possue sua lógica. Também ha entretanto, os que enloquecem r,or excesso cte lóg1ca'' : são Justamente aqueles que como Machado de Assis, procuram com rigor a essência de si mesmos a verdade mais íntima do próprio sêr atráves éia introspeção. Introvc1·teram-se como os loucos . Não tem mais relações com o munda da realidade objetiva, estão voltados para o outro lado da sua vida conversando com seus fantasmas. Desviaram do curso normal a tendência prospectiva que aponta ao homem o caminho da ação como uma réta quadrada ou uma curva prudente em contacto com a realidade aspera. Procuram o "Eu'' absoluLO. A sua atitude, portanto corresponde a do pensador que néga o mundo do senso comum e das aparências sensíveis para afirmar o mundo da identidade. Nos dois casos, porém, a unidade seria morte. Assim como só é possível o conhecimento relativo do mundo exterior por meio d a experiência âas relações condicionadas, assim também só podemos conhecer indiretamente o mundo interior por meio ~a a~ão. Sem ação não há personalidade, pode haver quando muito, imaginação de personalidade. O puro intravertido, então é um pescador de somb1·as que vive pescando as imagens virtuais da sua pseudo, per– sonalidade. Verme cerebral enroscado sôbre si mesmo namora o seu reilexo nas águas turvas da introspecção. Imagina o ./Eu" como uma realidade já dada anteriormente em bloco e que póde ser conquistada sem o milagre. Passivo, se deixa possuir pelo comtemplação pura. Mas não existe a comtemplação pura Daixa-s·e estar a comtemplar se já é modelar, ou construir o próprio destino, é substituir o homem real ou virtual. Por um fantasma absorvente que toma conta de tôdas as nossas fontes de vida. Assim, nós nos creamos á nossa imagem e semelança. E, como é impossível a unidade incestuosa da alma que se possue a si 11;esi:na, como há de perdurar sempre o princípio de divisão e de resis– tenc1a que é a lei da dialética da própria viaa, o fantasma suga todo o sangue do homem e a creatura domina o creador. Todos êsses doidos da introspecção alimentam a própria sombra que os devora aos poucos. De_shumanisam-se lentamente, devorados pela lepra das idéias. São su1c1das monstruosos que cultivam a angústia sistemática, deitados. sô– bre u1:1a cama de P.regos, abrem o próprio ventre com a mesma avidez das cnanças que estripam seus bonecos. E não encontram nada. Quem não encher de fé o seu espírito, quem não se íntregar na ação, seja ela qual fôr encontrará apenas em s i o vásio de si mesmo. Selbskenner ! Selbsthkenner! Sem dúvida foi êsse o grito mais sincero de Nietzche "Carrasco d·e si mesmo" verdade profunda que .esplica tôda sua obra e nos diz por que motiv~ êle estava condenado a destruir os seus i:iróprios idolos creados com tanto esfoi·ço e a cultivar contra as suas próprias tendências essa crueldade vertiginosa. Seria o verdadeiro destino de Pascal si o horror de si mesmo não o lançasse nos braços da cruz. Pascal tem medo dos abismos interiores, medo da terrível solidão, que esmaga o homem intravertido. Porque o prêmio da auto-analise é aquela solidão que soluça e geme m,usical– mente no "Canto Noturno" de Zarathustra. (Es~ai d' interpretatíon de la maladie mentale de Nietzche de Paul Landsberg.) Verdade banal da Psicoanalise. No fundo o intravertido típico é quasi sempre um tímido inadaptado que se retira prudentemente para evitar as surpressas da d~r– r_ota, um fugitivo que transforma as verd:iàe iras causas da_ evasão em p~·1.i:i– c1p10~ de conduta. A afirmação dcsd"n·1osa da nossa ltberdade esptrt– tual". Foi êsse tipo Machadeano, tímido, que nós deu n'um dos seus J ?J?ªn~es mais psicológicos e social que é Helena o _"Comp_lex~ _de I!;lcctra ', puramente inconsciente com sintonns de amb1valenc1a tip1co de seu estado Gliscroide, como ~bservou o professor Peregrino Junior,

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