Revista da Academia Paraense de Letras 1954

104 REVISTA ,DA ACAD"E:MIA P .\!lAENS!i: Dis I.ETR~\s propriedade exclusiva e uma das suas manhas infantis deixavam-no encantado e divertiam todo mundo, menos sua mãe . Se a senhora Berent referia-se ao marido como "pae" Ellen gritava indgn ada : Ele não é seu pae. Êle é meu! Quando Ellen completara 5 anos, Ruth viéra morar com êles. Era sobr inha do professor Berent, filha de um irmão seu. Depois da mor te' da mãe da menina, o professor e a senhôra Berent, escolheram-na e qu ando, dois anos mais tarde, morreu-lhe o pae, êles adotaram legalmente . Ellen que, até então, havia sido a rai– nha da casa, ressentiu-se, desde o princípio, com o interêsse de seu pae por aquel a intrusa. Quando Ruth atingiu idade bastante para acom– panhá-los à praia, Ellen rebelou-se furiosamente gritando ! Eu não quero saber dela. Você é meu pae. Você n'ão é pae' dela". Ora meus senhôres, esta passagem descrita pelo autor, vem nos mostrar que o desenvolvimento psicopatológico processado na vida infantil de Ellen, foi creado durante a formação do "Super-Égo" que se forma na idade de 4 a 5 anos, e, que devido a má pedagogia de seus paes, fixou em seu "~~go inconsciente" a rigura de seu. p ae, formando o "Complexo de Electra", ou "Édipo femenino"; e, que na vida adulta, transferiu-se conscientemente, a pessoa de Harland. Em palavras claras, Ellen reali– zou conscientemente o que poude realizar inconscientemente, ou seja; amou sexualmente Harland, porque nunca poude amar sexualmente seu pae ; e, eis o motivo que deu origem ao conflito psíquico causador da sua "Neurose compulsiva" (Neurose de Compulsão é o têrmo comu– mente usado na América, para traduzir o Alemão "Zwangsneur ose". Os ingleses preferem o têrmo "Obsessional Neurosis". Na literatura nacional, encomtramos a figura ímpar e insubstituível do grande Ma– chado de Assis, que consider o o maior e mais completo dos romancistas e conteurs da língua portuguesa. Sem melindrar e ferir susceptibilida– des, perdoem-me senhôres acadêmicos, se me tornei exagerado em res– saltar a figura dêste escritor brasileiro. Embora não me seja de feitio, exagerar e passar dos limites, os valores d as obras daqueles que as produziram; em Machado de Assis fugi da norma. Não sei se porque conheci no psiquismo do autor de Dom Casmurro, o psicologo pro– fundo, conhecedor e dissecador da alma humana. Não sei se porque, os seus romances refletem na vida social, os verdadeiros tipos psico-patológicos, que nós conhecemos e encontra– mos em nosso meio. Não sei, repito, se porque seus contos tfrarn a mas– cara da hipocrisia de seus personagens, para mostrá-los na sua verda– deira personalidade psicológica . Talvez quem sabe, se não tenha desco– berto que seu temperamento sej a igual ao meu. O certo é que me identifiquei ao homem e sua obra, e depois de estudá-lo no seu tipo psicoíógico e an_alisar. o~ spus ~rabalhos, enchi-me de coragem e au– daciosamente ps1canalise1 sua vida e sua obra, o que farei dando pu– blicidade um livro, o qual ser á prefadado pelo ilustrado mestre e intelectual professor Peregrino J unior . No autor de "Memórias Pos– tumas de Braz Cubas, o admirável romance psicológico, nós encontra– mos o homem tipo intravertido" ; mas, na sua obra nós de paramos com romances em s ituação intravertida, como : Dom Casmurro, Quin– cas Borba, Braz Cubas, Helena, Esau e J acob, Memorial de Aires e Homances e Contos em "situação extravertida", como : - "A mão 'e ~ luva Yaya Garcia, "O alienista" O espelho . Sob o ponto de vista Psi– coanalítico o que s ignifica "o homem t ipo intravertido. Por que di– ser-mos Machado de Assis o "intravertido" quando oi psiquiatras dizem ser os Joncos os itJtravertidos, porque perdem a noção do mundo real e estiio voltados para o outro lado da vida, conversando com fantasmas, ~orrindo por vezes à sua nov::i e terrível sabedol'ia que não podemos çompreender. É que os psiquiatr as gravemente descobriram g.ue tôda

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