Revista da Academia Paraense de Letras 1954

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE 1.ETRAS ió:l No século XVIII, J ean J asques Rousseau revela sua fixação mater na na sua famosa novela - "La Nouvelle Heloise" Esta obra de Rousseau revela-nos a sua afeição morbida Edipaniana. O chamado "Homem faus tiano", tal como foi cr iado por Goethe, está n'uma eter– na mal sucedid a prncura da própria mãe . Em 1931, um dos maiores escritores tea trais da América do Norte, Eugêne O' Neill, publicou sua tr agédia de "Édipo" no "Mourning Becomes Elec_tra", onde revela com or gulha e franquesa, .que a grande trilogia !,!squ iliana foi seu modelo, e, que ousou ex ibir no pa lco os primitivos complex os do amôr e ódio incestuosos q ue a civilização n ão pode ainda eliminar. O saudoso psicoana lista brasileiro Franco da Rocha salientou o mesmo "Complexo de Édipo" na obra de Vargas Vila "O Lírio branco" - ~izendo que a fixação do amor que ligava o protagonista a própria mãe rnfl um decisivamente na escolha da noiva . Esta incorporara seus o lhos os atributos idéias que a sua imagin ação criar a desde infância, para sua progenitora. O ódio ao pãe surgira veemente por ocasião de uma sóva que êste lhe déra" . O personagem de Vargas Vila, faz-me r ecordar, uma observação de Freud, sôbre um pacien te seu, portador de un:i,a "New·ose", que só casou .depois do falecimento de sua mãe com u1!1a Jove111; que er a portadora de uma cicatriz n a face, como sua adorada mae possuia. Na turalmen te, se êste paciente de Freud, houvesse sido um homem de le tras, poéta ou romancista, seus personagens represen– tar iam conscientemente, aquilo que o escritor vivia inconscientemente, que era a fixação materna ; e, como não dava escapamento aos seus complexos r ecalcados, porque por vocação não er s1 escritor, os seus sintomas manin.festaram-se sob a forma de 'Neurose compulsiva", ~urando-se após ao casamento . Psicoanalit icamente êste mecanismo psíquico, vêm confirmar q ue m uitas vezes a vocação !iteraria, vem sublimar os complexos recalcados inconscien temente, evitando que seu s portadores, sejam afet ados de diversas neuroses e psiconeurosos . Um dos romances publicados nestes últimos tempos, de fundo psisológico, foi escrito pelo grande romancista americano Ben Ames Willians, in– titulado "Leave her to heavem (Amru· foi minha ruína) em que a principal protagonista do romance Ellen, fixa inconsciente a figura de seu pai e, depois da morte dêste apaixona-se pelo homem que sua ima– ginação patologica inconsciente cr eou uma semelhança da fisionomia d o homem q ue, julgava. parecida com seu pae. Portadora do "Complexo e Electra", aliado ao n arcisismo que possuía, cr eou no seu psiquismo um mundo impossível de viver , chegando ao pon to de se tornar uma homicida inconsciente de seu cunhado, que ela julgava gostar , e,· a té do seu próprio filho, a inda gerando em suas en tr anhas. Mas, o estra– nhável é q ue o autor, mos tra o Complexo de Electra, sob a forma ca– su alme nte consciente, sem procura r ocultar nem disfarçar o seu ver – dade iro sentido inconsciente ; quando fala ao leitor dest a maneira'' ; "Sabe o Se nhor é igualzinho ao meu p ãe" - E a estas palavr as os olhos dela se encheram incrivelmen te de lagrimas" - Mais adiante, en_con tramos : Mu ito an te::; diso, ela j a tra tava o pãe como uma prç– pnedade esclusiva : Monopolisava-o comple tamente, que eu me adm1- r:;iva, de q ue não quizesse também dormir com êle ! Em out ro capí– fülo, dep ar am os - "Mas, er a ela quem Ih<=; estendia as c~bertas, que Jbe preparava a a limentação e quase que ate lhe dava comida na boca. 'J'.inha loucl1ra por êle, já se vê mas afinal de contas o homem n ão tmha direitQ nem mesmo sôbre a sua pr ópria alma "Ela deve ser um dêsses casos de fixação paterna ou coisa que o valha". No capítulo 1l . 0 do l ivro, encontramos esplanado p elo próprio au tor que a fixação feita ao pãe, começou q ua ndo a protagonista er a muito cr iança. "Por êsse tempo Ellen ainda n ão tinh a 5 anos, mas já o considerava como ~iia

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