Revista da Academia Paraense de Letras 1954

102 REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE m~ u:l'rlAS menta idéias destrutivas e ciumentas contra seu pai) O complexo de Electra" (a menina que deseja inconscientemente participar da vida do pãe e odeia a mãe) "Há a mãe que ignor~ odiar a filha que se torna moça, como uma rival possível a contestar com o declínio de seus pró- prios encantos. . E êsse ódio manifesta-se eventualmente, n 'uma certa forma de crueldade (embora somente nominal e dentro dos lim ites das chama– das exigências da educação) chamamos, a es ta tendencia - "Complexo de Medéia", por causa da horrível heroína do mito grego, que, depois de ver J asão, seu marido, tranierir seu amôr para os filhos, priva-o d'eles com vingança . O "complexo de Fedra", que é o amor incentuoso de uma mãe pelo filho, embora em Euripedes, Hipolitó não seja filho, mas enteado de Fedra. O "complexo de Ca im e Abél", tirado da le nda Bíblica, em que Caim mata seu irmão Abel, foi aproveitado por Fraud, para: mostrar o ódio inconscie nte entre irmãos e, o encontramos na "Noiva de Messina", de Schiller. É êste meca nismo inconsciente cha– mado por Freud, de "Constelação fa.iniliar", que nós estudiosos da Psicoanalise, encontramos como uma das inspirações inconscien tes das belas poesias e dos grandes roma nces que existem na literatura . ."f: um motivo constante de admiração en contrar todos os com– plexos que a Psicoanalise trouxe a luz, repetidos sempre e sempre, inconscintemente, na arte e literatura àe todos os t empos e de todos os paises. Restava, porém, a Psicoanalise, elaborar êstes motivos, até que se t ornassem cientificamente esclarecidos. Hoje, parece que os poétas ouvem com granàe atenção os ensinamentos da Psicoanalise, com uma lucidez até então desconhecida. Parecem mesmo ter afinidade com a psicoanalise que também s~ esforça por neutraÍizar as r epressões de seus pascientes tornando conscientes os complexos que os dominam; vemos uma legião de poétas modernos atirando-se ao trabalho e reve– l ando ostensivamen te o que os próprios trágicos gregos n ão ousavam revelar em tôda a sua nudez". O poéta mostra nos tipós, no espelho de sua época. Não mas é possível excitar poéticamente o povo de nosso tempo, com o "Complexo de Édipo", posto sob a forma casualmente consciente. O verdadeiro poéta nos mostrará o "Complexo de Édipo", na forma culta, ou disfar çável, que condiz melhor com a nossa re– pressão milenar. É que a humanidade, sem o saber, foi e será sempre agit ada pelo "Complexo de Édipo" , e por êssc motivo nós encontramos tanto na L iteratura Clássica, como na moderna, os episodios dos seus personagens, representando um tipo "intravertido" ou extravertido" com sintomas ele uma "Neurose" ou de "Psiconeurose", r elacionado quasi sempre ao mecanismo inconsciente da cons tela ção familiar, re– presentado na capi tal trilogia do pãe, mãe e filho. Recapitulando a literatura no século XlV encomtramos a figura poética de Durante Alighieri que perdera sua mãe quando ainda muito jovem, pois t inha apenas 12 ou 13 anos de idade, levando umà adoles– cência égocentrica, e cheia de sofrime ntos recalcados · porqu e se u pãe rasara-se', e d~ixava o pequeno Dante, em l uta com ~s seus p roblcmas psíquicos, p1·óprios de sua idade . Loui!:; Gil: e t, da Academia Francesa, em sua admirável biogr afia - '·D·inte", é d<" opinião que Beatrice Por– tinari, foi o motivo essencial de tôda vida mon 1l do gr amle poéta e a razão de ser elos se;is poemas e dos seu, cantos . f;:ste conceilo emitido, por Gillet, foi confirmado pe ln Púcoanalise, qwmdo Al ice Spcrrer, f's icoJn::ilisando a "Divina Comfdia", n'um t rabalho publicado na r e– vista ··Imago", chP-gou a conclusão que o mnor nnecista do poéta por Beatrice Portinari, a quem nunca viu a não ser, apenas duas vezes cm sua vida, não é mais do que uma r em iniscência da mãe do poéta, a qual o genial autor perdeu quando era muito jovem ainda,

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