Revista da Academia Paraense de Letras 1954

100 REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE •~E'l' •<A.S pendente, subtraida á ierarquia da consciência, atuando por esta razão, com seu valor e energia próprios, umas vezes com entorpecimento do processo consciente voluntário, outras como uma instância que se en– cerra sôbre o "Eu", pondo-lhe a seu serviço. O poéta que se identifica· com o processo creador será aquele que, desde o princípio, pronuncia-se sôbre si, a ameaça do inconsciente "tens que ser poéta". Poéta para quem o creador apresenta-se como uma potência estranha, seria aque– le que, por motivos desconhecidos, não pode dár conta de si, e 1,es ulta que a ordem "tens que se,r poéta" o surpr~nde. É de esperar que esta diversidade em o nascimento de uma obra artística seja perceptível. No primeiro caso trata-se de uma produção intencionada, acompanhada e dirigida pela consciência que se vae desen– rolando com a reflexão sôbre a forma e o feito procurado. No segundo caso, é um acontecimento que surge da natureza inconsciente e que chega a ser realidade, sem o consentimento,' e algumas vezes até com a oposição da consciência do homem e que impoem a forma e o efeito que quer. No primeiro caso terá que esperar que a obra não transpasse nunca às fronteiras do entendimento consciente, que seu efeito se es– gote dentro do limite intencionado e, que não diga nada mais do que o autor se propoz a dizer. No último caso, terá que esperar a presença de algo, supra pessoal 1 que rebaixará os limites do entendimento consci– ente na mesma meaida em que a consciência do autor se encontre dis– tanciada do desenvolvimento da obra. Terá que esperar a estranhesa da idéia e da forma dos pensa– mentos que não é possível captar n.em por leve suspeita, uma lingua– gem cheia de sentido cujas espressões tenham o valor de autenticos símbolos, porque no melhor dos casos, serão espressões de algo des– conhecido. A psicoanalise não se atréve a classificar a obra de um poéta desconhecido, imediatamente em um ou outro caso, nem haver inves– tigado, antes com certa profundidade, a relação pessoal do ,poét a com sua obra. Não basta saber se o poéta pertence ao tipo de homem intra– vertido ou extravertido ; porque ambos os tipos possuem a d'upla possibilidade de produzir, uma vez em situação "extravertida" e outra em situação "intravertida" ; como observamos em Schiller, s i con– frontamos sua produção poética a sua produção filosofica ; em Goethe, com a diferença entre suas poesias, e a segunda parte de Fausto; e, em Nietzche, se colocamos seus aforismas á corrente impetuosa de "Also sprach Zarathustra" . O mesmo poé ta pode guardar uma relação indistinta em cada uma de suas obras, e dependerá da relação parti– cular com a obra de que se trate e o critério que terá de se aplicar. É um problema, como se vê, infinitamente complicado . . . Mas, a com– plicação dificulta-se mais, se chegamos ao caso do poéta que se identi– fica com sua obra. Como estudioso da "Psicoanalise" e observador da Psicologia humana;,, poderei afirmar que vossos sub-consciente, inter– ro~aram-me. ,Por que a }:'sicoanalise explica que a ori~em das creações artisticas está no Inconsciente, quando Jung, no seu "Complexo creador autonom~" abordando êste assunto, fala-nos de um processo consciente voluntário, como se a origem das creações artísticas estivesse no sub– consciente? Será que ex iste um processo consciente voluntário e um processG> incon_scient_e in_volun~rio ? Eu lhes r esponderei, que. não ! A fonte é uma so, a vida mc<?nsc1ente ; mas no processo inconsciente vo– l untá rio as idéias simbohcas, são procuradas no inconsciente, pelo sub-con~ciente, e controladas pela válvula censor a e trasidas ao cons– ciente tornam-se portanto, idéias voluntá rias . Geralmente, isto acon– tece 'porque o inconscien~e nãq está fer~ilisado de fantasias e imagi– naç6es infantis, havendo necessidade, muita vez, do creador trazer do

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