Revista da Academia Paraense de Letras 1954

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSF. DE LET,' l.AS g§ Continuando os nossos estudos sõbre as fantasias dos poétas, po– deremos dizer que é màis düícil observar a aleboração fantástica no homem, que no brinquedo da5 crianças ; porque o sonhador adulto, tem vergonha de suas fantasias, e oculta-as perante seu próximo, dis– simula-as como secretissimas intimidades, e, em geral, prefiri rá confes– sar suas faltas, antes que comunicar suas fantasias. As crianças, nos seus brinquedos infantis, procuram sempre imitar os adultos, parecendo sempre "ser grandes", não encontrando motivos para ocultar seus de– sejos . Pergunta-se como é possível ter-se conhecimento das fantasias humanas, se elas rodeam-se de tantos mistérios? É que existe u)'Ila categoria d e seres humanos, na qual have ndo necessidade de expressar suas dõres e seus praseres, por sintomas psíquicos, são conhecidos por "Nem·oticos", e que obrigados a confessar até suas fantasias ao P sica– nalista, que deverá curá-los, mediante a psicotérapia. . Tratemos de esboçfµ' algumas características da criação imagina- ti va . Antes de tudo, advertiremos que o homem feliz n'ão fantasia, por– que só o faz quem não tem satisfação. Os desejos frustados são os mo– tores das fantasias e cada uma destas reprenta uma realização do de– ~ejo . . O que vem a ser a creação poética, se não a realização do desejo 11;1agmado na fantasil! do nosso mundo inconsciente, e trasido ao cons– ciente, por simbolismos imaginativos, tranformam a vida do poéta, n'uma vida de sonhos e de fantasias ... ? Será lógico que comparemos, o poéta com o "sonhador de vigilia" ? Suas creações com os sonhos di1:1rnos ? Sabe-se, desde Socra tes, que a inspiração como origem da cn~ção vem do inconsciente. Na ma ioria dos grandes escritore_s e es– pecialmente em alguns, como por exemplo : Shakespeare, N1e~z~he, 9oe~h_!'?, Stendhal, Santo Agostinho, e Dostoieveky, encontramos vividas mtu1çoes de um principio cientifico que foi estabelecido por Freud em 1908. "O artista expressa, em sua obra uma realidade tranfigurada pela fantasia, a qual se orig ina dos sel!s d 1 esejos inconscientes" . O psicana– lista Carlos Jung, em seu monumental livro - Psichogishe Typen" es– tudando os diversos "Tipos extravertidos" tomando por base as rela– ções do Super -Ego, com o mundo interior :ia caso dos "Intravertidos" e, com o mundo· exterior ou objecto no caso do "Extravertidos", chegou a conclusão de que êste dois tipos psicológicos, poderiam influir na cria– ção artjstica dos poétas e prosadores. Mas no entanto, psicanalisan~o a_s poesias e prosas, de grandes poétas e pensadores, encontrou os dois tipos, na mesma c r i a ç ã o artística como e m "Prometeu" de Spitteler e em "F a u s to" de Goethe • e o tipo intravertido em "Zarathustra" de Nietzche na Di~ina Comédia do Dante, e no "O ·mundo como von tad~ e R e p r e s n ta ç ão" de .Artur Schopenhauer. O mesmo Jung, em seu esplendido livro "La P_SJQ\l'.'. ·: sus Problemas atuales" em o capítulo "Las relaciones de la Psicologia An_alitica, con la obra poética", considerou que a creaç~o artística dos poetas, e dos prosadores, está no seu inconsciente que e o mundo das coisas belas e imaginativas. A analise poética dos artis~as mo~tra-nos constantemente, como é forte o impulso que brota do mconsc1ente e que tende a creação artistica. Quantas biografias de _grandes poétas e romancistas nos têm demonstrado que o impeto creador é tão gr~de e poderoso que arrebata para si todo o ser humano e põem a serviço da obra, toda a felicidade humana. Na alma 'do ar tista, a obra da crea– ção, é uma fôrça da natw·eza, que se maniFesta da mesma maneira, guan – dor vive e· cresce no homem, como uma árvore na terra, que obnga a do uma terra bem nutrida, obriga uma árvore dá bons frutos . O crea– dar-lhe alimento. A Psicologia analítica chama a isto "compl~xo ~rea– dor antonomo" que, como fração separada da alma, faz sua vida mde-

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