Revista da Academia Paraense de Letras 1954

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE !..ETRAS hora -uma multidão ! - gente cruzando os corredores, gente moven– do-se nas salas, gente entrando, gente saindo. E toda essa gente, ou quasi toda ela, íntima amiga do médico. Clientes gratuitos quasi toda essa gente. E era t ão grande o número dêles que insen sívelmente nós nos perguntavamos a nós. mesmos: como é que o Jorge paga as en– fe rmeiras, o aluguel dà casa, as despesas de consultório, si aqui nin– guem paga n ada ? ! E não existiu no Rio de Janeiro, consultório médico mais curioso do que o dêle. A primeira impressão era de que aquilo era uma de– p endência d e uma igreja. PaTamentos religiosos, santos, santos de to– dos os tamanhos, de todos os feitios, santos _exquisitos, velhos, feios, horrorosos. Em todas as salas quadros e esculturas modernistas que êle pró– prio, nas horas de vagar pintava e esculpia como uma forma de des– canso. E e.m todos os cantos, em estantes, em cima de cadeiras, em cima de mesas, m esmo no chão, livros, muitos, muitos e muitos livros. E , girando por isso tudo,ora num grupo aqui, ora num grupo ali poetas, poetisa~. romancistas, escritores de teatros, pintores jornalistas e, en– fim todas as atividades a rt.íst icas da cidade . O Jorge conhecia todo o mundo. Todo o mundo queria b em o Jorge e se serv ia de seus favores de médico. E curioso : êle um dos mais altos chefes do movimento moder– nista, tinha a inteligência aberta a todas às escolas. O seu consultório era •um Babel literária e Babel sem confusão porque todos se tornavam tole r antes e amigos alí dentro . Era o seu coração como um porto ami– go em que tremulavam todas as bandeiras. É nêste consultório origi– nalíssimo não se descan çava . Estava aberto das 6 da manhã às 8 da noite. E trabalhava-se vivamente, inacreditávelmente. Não pensem que literatura conseguia r elegar a medicina para segunda plana. ' ♦ Dava-se ali um verdadeiro rnilagr e : o médico não perturbava o poeta e nem o poeta 1_1erturbavà o médíco. Ambos atentos. Ambos · _ operosos. Naquêle consultório, no meio de todo aquêle fervilhar de gen te, o médico sal vava vidas, o homem de arte escrevia poemas, pin– tava e esculpia . E tudo isto sem atropelos, serenamente, carinhosa- mente. . Jorge de Lima, foi na verdade uma das mais belas prganizações artisticas que o' Brasil já produziu. E foi também um dos mais formo– sos corações que Deu s já colocou num corpo humano. OUTROS ORADORES Sôbre a personalidade <le Jorge de Lima falaram a inda os aca– dêmicos Manuel Bandeira, Rodrigo Otavio Filho, pedindo que se in– cluíssem nos Anais da Academia os discursos proferidos na Câmara F ederal p elos deputados Osvaldo Orico e Menotii del Picchia, o que foi aprovado. O Sr. Peregrino Junfor evocou Jorge de Lima como seu con– temporâneo de vida médica, na Academia de Medicina e, estuda ndo o homem ruja obra aplaudia, declarou associar-se de pleno coração ::is homen agens que estavam sendo prestadas ao criador de "Nega Fulô". Falaram ainda· sób1·e o gr ande escritor os acadêmicos Cíaudio de Sousa A . Carne iro Leão e Clementino Fraga. '

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