Revista da Academia Paraense de Letras 1954

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS Criaremos êsse culto, que ser á. uma espééie de reparação, senão d e estrita justiça a quem tanto a mereceu. Ponha o meu nome na lista, Mucio. V. b em sabe - como depreendo de sua ca rta - que eu não po- · deria estar ausente a um gesto como o seu. Mas não deixe de conside– r ar também a sugestão que lhe faço ~ para que a nossa homenagem seja completa. E r eceba, com o meu agradecimento, a reafirmação .da fiel .ami– zade que lhe dedica, como sempre, Cassiano Ricardo" . FALA VIRIATO CORREIA Por sua vez, ·o acadêmico Viriato Corrêia pronunciou as seguin– tes palavras : Sr. Presidente : Eu p ertenço ao ról dos que choram a morte de Jorge de Lima. E choro-a com o cérebro e choro-a com o coração. Choro o intelectua l que atingiu as culminâncias do pensamento, choro a criatura humana que os meus olhos testemunharam ser uma das bondades mais fascinadoras que vi no mundo. Choro o poeta e choro o amigo. O amigo que com a sua doçura enterneceu o meu coração, o poeta que se imortalizou e engrandeceu as nossas letras com essas duas maravilhas que se chamam "Acendedor de lampiões" e "Essa n ega fulô". E ao chor ar o poeta, sou dos que mais lamentam não ter êle per– ten cido a esta Casa. Meus senhores : Não houve no Brasil escritor que mais alme– jasse a Academia do que Jorge de Lima, e n ão houve ninguem mais do que éle que a me1'ecesse. A ilustre companhia às vezes tem ouvidos moucos e tem, às ve7.es ca taratas nos olhos . Nem sempre ouve os apê~ los de quem a pode honrar, nem sempre vê o tamanho dos vultos que a mer ecem. Jorge de Lima bateu várias vezes às nossas portas e bateu car– regado de valor, bateu trazendo a ressonância de um no~e popular no país e festejado no estrangeiro, e nós não tivemos olhos e ouvidos para vê-lo e ouvi-lo. E deixamo-lo morrer, êle que desejou a Academia como se d eseja uma noiva querida, deixamo-lo morrer sem lhe abrir– mos a port a par a que êle nos t rouxesse a _grandeza literária de seu nome. • • • Os dois traços marcan tes da personalidade de Jorge de Lima e r am : a sua vocação poét ica e a sua predestinação de bondade. Eu n ão me lembro de ter encontrado na minha já longa travessia pelo mundo u rt1a cria tura tão bondosa como o autor da "Invenção de Orfeu" . Era a bondade suave, macia, sem cálculo, sem ruido, expon– t ânea que emanaYa de seu ser com ~ n~tura lidade com que as estre– las se acendem no céu , com a n aturahdaae com q ue o perfume se des– prende das rosas . . . " _ ,, Jorge de Lima a travessou a vida s~m nunca te r dito um nao a n inguem. Não sabia r ep elir. De us o criou para as belas formas do acolhimento. , O seu consultório m édico, alí n a Cinelàndia,_ era uma especie de t enda onde t oda a gente encontr ava sombra e carmho. Era uma das notas mais curiosas desta terra, meus Senhores, o consultório m édico d e Jorge de Lima. Um andar inteiro. A qualque,·

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