Revista da Academia Paraense de Letras 1954

l RE\flSTA DA ACADEMIA PARAENSE DE"LETRAS l 91 mov~ento dos dez acadêmicos, em seu favor embora não tenha tido ocasia~ de ver transform'.1do em realidade o que era apenas um gesto de carmho no? seus admiradores e amigos . - O e ntus1a~mo com que êsses eleitores receberam a iniciativa em favo~· ~~ Jorge de Lima foi gr ande e sincero. Olegario Marian~, com a sua sens1b1ll?a~e de poeta s_oube da ho~enagem com os olhos mãreja– dos d e lagnmas; e pediu que lhe ficasse reservado o primeiro lugar na ordem _das_ assinaturas d a indicação . Queria que fôsse o seu o abraço que pnmen'o acolhG'sse o grande p_oeta na imortalidade. Viriato Cor– r eia amiJU o coração e a alma de Jorge de Lima com extremos de ir– mão. Pois não vi eu num antigo pleito em que ambos concorriam (cr ê io q ue e ra na vaga de Paulo Setubal) , Viriato Correia vir pedir-me com insistê ncia que eu desse a Jorge um escrutínio que estava desti– nado a êle,Viriato? Creio que foi a primeira vez na história' desta casa, em que um candidato pediu a um eleitor o voto para o seu anta- gonista . .·. . Jorge de Lima morreu assim, sem ter vindo honrar a precária - a t ão precária ! - imortalidade acadêmica. Será, de ora por diante, um dos hóspedes mais queridos da Cadeira n. 41 - que é sem dúvida a m ais ilustre cadeira da Academia. Nela sentam-se grandes poetas, como Her mes Fontes e agora Jorge de Lima, romancista do porte gi– gantesco d e Lima Barreto, e àe Domingos Olímpio, ensaístas, oradores, filólogos, sociólogos, pensadores, filósofos, da estirpe de Tristão da Cu– nha, de Ba rbosa Lima, de Mario Barreto, de Theodoro Sampaio, de Al- b ert o Torres, de ·Farias Brito . . . 1 • A essa comunicação' quero deixar incorporada a formosa carta que de Cassiano Ricardo recebi em Setembro findo - .carta em que êle, em r esposta à comunicação que lhe eu faria do movimento em fa– vor de Jorge de Lima, dava suas impressões acerca do grande poeta. Eis o documento : "Pa ris, 4 de Setembro de 1953 . Meu caro Mucio : Recebi a sua carta, datada d e 31, que imediatamente respondo. N enhuma notícia ma is dolorosa, par a mim, do que a referente ao Jorge de Lima . Fiquei com os olhos turvos de emoção e de lágrimas, ao ter a confirmação - agora irremediável - de que êle, poeta e santo, está a findar-se, vítima de atroz moléstia . Mas a sua carta se me comoveu assim, n ão me deixou de tra– zer t ambem um pouco' de confort 0 moral, uma palavra amiga e cari– nhosa, em que identifiquei o companhiero sincero de todas as horas que v. tem sido, desde ,que a Academia me deu ª. ve_ntu1:_a do -seu afeto. Refiro-me à iniciativa que v . tomou , da md1caçao do nome do nosso_grande poeta, se ocorr~r alguma va~a, enql!an~o. resJar a êle um pouco d e vida. Compreendo bem o sentido, a s1gi:i-1f1caç~o- da home– n agem; e apr esso-me em lhe dizer que a subscrevo m cond1c10nalmente. O meu pobre nome é muito pouco para a grandesa que o ato da Aca– demia adquire, num a hon~ como esta, :11as é tudo o que eu po~S? _d~ - ou melhor -é tudo o que faço questao de dar à sua nobre m1c1ativa , Nem ppdia eu conceber a hipótese, que ora se transfori:na e~ r ealidade, sem disputar o lugar que me coubesse ent re os dez s1gnata- rios da sua indicação. . ~ Mas meu caro Mucio, que fazer , se a Academia nao chegar a presta r ao' Jorge a homen agem qu e ':'ºc_ê i1:1aginou? . Suponho que, em tal caso, a 111d1c~çao dev a ser ~1vu!gada nos ana is, e que a Academia possa - atraves d~ uma exphcaçao sua - consider ar o Jorge como tendo a ela pertencido .

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