Revista da Academia Paraense de Letras 1954

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS MARIA DE BETHANIA (Ao Eldonor Lima e R9drigues Pina.gé) Jesus cumprindo o seu luminoso destino de predestinado, torlo de azul vestido, 87 como se fosse um pedaço do céu exaltanrlo de luz o silêncio da terra, caminhava, suavemente, pelas ruas encantadas de Bethânia. Madalena - a renegada que Na.:areno transformou na Virgem Conso- ladora de Maria aos pés da cruz ignominiosa do Golgotha enlutado, ele longe avistou Jesus, lindo, masculo, passando... Quem é aquêle homem?-deslumbrada e deslumbrante indagou Madalena É o tal de Jesus, respondeu, com asco, uma voz de despeito, de perfídia e de invéja. Madalena, que era lincla e era insinuante, tão linda e tão mulher que se arrependeu até de ter pecado, 'levantou-se, correu, lançando-se de joelhos aos pés de Cristo, intel'l'ompendo a sua caminhada luminosa, cscandalisamlo todos, alucinada 1>or Jesus. E Êle parou. E com os olhos brilhantes de ternura e amo1·, com as mãos suaves de carícia e de ansiedade, o coração exaltado, o espírito sereno e puro, ·pel'guntou, entre um sorriso e um olhar indescritíveis - um sorriso talvez humano, um olhar todo divino ..:._ o que queria Madalena, suplice a seus pés. Mais linda e mais mulher, Madalena foi-se erguendo e disse, num suspiro, num lamento, num desejo ou numa súplica : "Beijar o rosto teu, Nazareno, meu a1'1or !" Cumprindo o seu luminoso destino de predestinado, mais santo do que homem, mais Deus do que Jesus, o Meigo Nazareno, fiel à doutrina pela qual sacrificou-se, respondeu, entre um suspiro, um lamento, uma lágrima, numa renúncia; "Não é êste o amor que eu quero à so'inbra de Bethânia !" Êste é um ca1>ítulo que a história de Cristo não revela, mas a memória dos homens não esqueceu e a emoção de um poeta aqui relembra. "Não é êste o amor que eu quero à sombra· de Bethânia !", disse Jesus, numa renúncia ao Amor, à doce Madalena. Mas à sombra de Bethânia, da minha Maria de Bethânia,

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0