Revista da Academia Paraense de Letras 1953 (MARÇO V4 EX 5)

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS P0 ,E.MA de ALVES DE SOUSA (ao dr. Pinto Dias) Tudo que vem de ti, na cólera violenta, na doçura mais calma, ou na graça mais fina, 6 dor, 6 vendaval, ó ciclone, 6 tormenta, é o bem que me conforta, é o mal qu_e me alucina ! Geras em. ti a , morte, e onde a rporte tu geras, numa ressurreição de rosas e violeta~ esplenqem, sem cessar, fúlgidas primaveras, sobem do v~le do. prado aves .. borboletas. Essa invisível mão que é a tua mão querida, onde a poisas, afiando, asa que ao ar se evola, extingue-se de vez todo calor. de vida : a tua pele cresta, o teu hálito estiola. Circulam no teu sangue o veneno e o perfume, incenso que seduz, mandrágora que mata : a paixão, a vingança, o ódio, a saudade, o ciume, tudo que atrál à lama e aos astros, arrebata 1 Não te entendo. Não sei quem és. Nem quero e cuido' És o bem que desprezo, o mal que não rejeito. Sem te ver, sem te ouvir, ao misterioso fluido que és tu, e mais ninguém - escancarei o peito 1 Escancarei o peito, e ó visão Invisível, ó vertigem, ó cinza, ó espuma, ó nuvem ! logo, sob o jugo fatal do teu fluido incoerclvel, o cativeiro tramo, a liberdade afogo ! Não . importa I Sem ti, que não sinto, nem vejo, qu~· não sei se és Castigo e não sei se és Perdão, longe de tudo que é Temperatura e Desejo, eu seria mais vil que a erva agarrada no chão 1 És. tu, ó mago Sêr de espirita disperso, com lampejos de Céu e auriflamas de Inferno, que me fazes semear, vaidoso, no Universo, do meu eterno Amor o áspero orgulho eterno 1 Amor que não fraqueje, alto, sublime, pulcro e que, posto no esquiic e conduzido ao Nada, faça crescer, cantar no poente do sepulcro flores e rouxinois numa eterna alvorada 1 Tenbo-te como a Dor que me fustiga e eleva, 6 símbolo Imortal, por isso mesmo esquivo 1 Do teu misto de luz, de solidão e treva é que sofro, é que sonho, é que morro, é que vlvo 1 97

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