Revista da Academia Paraense de Letras 1953 (MARÇO V4 EX 5)

! REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE o :;: LETRAS 93 A.UGUSTO DOS Al'TJOS, EU E OUTRAS POESLt\S ALVARO D/li. CUNHA (Sócio corresp::mdente da Acad~ mia Paraense de Letras no Território Federal do Amapá) Seu verso é a própria vida inapelável e crua e arranca a máscara de todos os pudores.. . Seu verso possui mais espinhos do que flores, e é longo, é sujo, é triste, como aquela rua onde viveu Augusto, onde nasceu a rnágua que êle trouxe no éstro acrisolado e cheio de crianças magras, horrivelmente magras, e de mães que apertam Inutilmente o selo. Seu verso não tem paz, é canto suicidário, ardente como um sol de ouro na retina, ardente como arde o rosto do operário às çha,rn!ls que ~sb;-as~illlll e;, f~rro na of!c!nP., Seu verso não é Incenso em côncavo turibulo, escorre sôbre as almas, liquido e viscoso, e atreve-se a encontrar um deus pecaminoso regendo o ritual dos corpos no prostlbulo. Augusto era a canção do ódio contra o embuste, urna doutrina em verso hostillzando o êrro. Vestiu-se com essas pompas tristes de um entêrro • ao ver mudar-se a fé em ânsia e desajus te ... Feroz é o plágio, a imitação de Augusto em poesia ; Imitam-lhe o estilo, o blasfemo estupor , a cólera que c;!lora. pois nunca, t ão atual e própria como agora foi aquela multidão de ultrajes que escrevia ... Perdôa-mc, portanto, Augusto, meu amigo, se estou escrevendo o poema do RIO MAR e em cada estrofe pareço-me contigo. Disseram-me Isto, Augusto, tantas vezes, que eu comecei o poema h á vários meses, e n ão posso terminar,

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