Revista da Academia Paraense de Letras 1953 (MARÇO V4 EX 5)

1 1 • nÉVISTA DA ACADÊM!A PAnAENSE nE tm'RAS 01 UM POETA ESQUIPATICO PAULINO DE BRITO Espancmos, por um pouco, o pó do olvido, de sôbrc uma figura nada trivial, d esaparecida há muitos anos, que gozou em Belém de larga popula– ridade e teve o condão _de fazer rir - de um riso nem sempre inofensivo, diga-se a verdade - duas gerações de gente alegre e apreciadora de dislates engraçados. Hoje n ão os há mais (refiro-me aos dilates engraçados) ; superambuda a espécie dos que são ditos ao sério, e, o que é mais extraordinário, tomados t ambém de sério. :ts tes, em vez do bom gargalhar des opilante, produzem nos infelizes que os dizem, e mais nos que os ouvem, semblantes contraidos e tor– tl.lrados de pessoas que fazem um supremo esforço para compreender. Nin– guem mais crê na existên cia da sa ndice : o que não tem senso e por ser dema– s iadamente profundo. Nes te particular vamo-nos avizinhando àquela situação descrita por Campoamor numa das suas f á bulas : Hubo en cierto paiz tantos beodos Que se puede decir que lo eran todos. Mas no tempo do poeta Ricardo, o tupinambarana, o tambaquirano vatc, como lhe chamavam. ainda e ra possivel torna r-se um individuo desfrutável publica ndo borracheiras poéticas, e foi graças a essa feliz circunstância que o seu n ome chegou a ecoar por todos os âmbitos da Amazônia. Ao passo que com o tipo êle íoi talvez único, como muito p e rmanecerá rodeado de obscuridades impenetrá veis. Há quem acredite que era um sim– plório, sinceramente compenetrado da sua vocação poética ; outros, porém, a firmam que n ão passava de r efinadlssimo capadócio, desempenhando a comé– dia da idiotice para viver vida folgada e milagrosa. Qual das alternativas estava com a verdade; é segredo que êle le vou consigo para a sepultura. · N ão s e sabe se foi na prá tica com os dile tos das musas, queima ndo as p estanas sõbre o "Pa rnaso Lusitano" ou outro r epositório desta qualidade, que êle "t anto leu que tresleu" . Ignora-se quem o animou a empunhar a lança e sair, armado de ponto em que um dia , no meio pouco literário da sono,enta Ma náus daqueles t empos, lançou aos qua tro ventos da publicidade - OS VOOS DA TAMBAQUI - coleção de versos que obte ve um sucesso completo de gargalhada. O tambaqui, como o leitor sabe, n ão pertence a bsolutamente à classe dos peixes voadores, mas o poeta justificou dêste modo, preliminarnante, o titulo que escolhera para sua obra : O tambaqul é peixe bom, Comida de dellcias boa ; P ara comer Jev..se à boca, Que pelas goelas a baixo võa. No preâmbulo, em prosa, expõe com modestia, rara hoje em dia, a sua s ituação na república das letras : " Grande ínsonte pigmeu da ciência, minha vida de poeta era, na litera– tura p á tria, qual p equeno caniço junto do secular carvalho" . Ricardo exercia, desde longos anos, um cmprêgo público provincial n o Amazonas, mas no P a rá n ascera. Movido por saudades do berço ou tnlvez, o

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