Revista da Academia Paraense de Letras 1953 (MARÇO V4 EX 5)

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSÉ DE LETRAS 5 b) - uma personagem, como fez Sinclair Lewis, com "Babbitt" : e) - uma situação, a exemplo do que fez Somerseth Maughan com· "O Vé u Pintado": d )- uma histórb fechada, tal o caso de "Ciúme", de Albert Gusman: e) - uma idéia isolada ou uma frase, como os próprios romances de Érico Veríssimo, "Olhai os Lirios dos Campos" ou "O Resto é ~iléncio ..." Pouco importa, cm ..:rcr dade, o ponto do partida. O que interessa, em última análise, é o caminho que o romancista abre com as proprias mãos - é o rumo que l!lc dá à lnvestlgaçiio psicológica, é o sopro de vida que êle Insufla nas personagens, é a palpitação humana que êle empresta às pessoas e às coi– sos . . . Mesmo porque o romance comporta ainda, além das soluções apontndna pelo autor d e "O Tempo e o Vento", muitas outras: Balzac, na "Comédia •Hu– man'n", fez a crõni<:a de sua gente e do seu tempo - e o que nos deu foi um espectáculo palpitante e vivo das paixões humanas. O "Contra-ponto", de Hux ley, é o estudo ela s ociedade inglesa do começo do século, como "As chuvas chegaram", de Bronfield, é o retrato da India moderna . "As vinhas da Ira", de John Stelnbeck, é um quadr o da v ida dos pioneiros nort.:,-amerlcanos, um ve rdadeiro romance sociológico: um documento. Como documentos-ásperos, francos e rudes - são os rom:mccs de Faulkner e Hemingway, que Sartre tão calorosamente louvou . E, no Brasil, documento da vida brasileira, foi o "Luzia Homem" de Domingos Olimpio e são os romances de um José Lins do Rêgo, de um Jorge Amado, de um Amando Fontes, de uma Rachel de Queiroz. bse· admiravel "Memórias de um Sargento de Milicias", cujo centenário se celebra justamente agora, é um docume nto dos costumes de seu tempo. Mas, -temos, também, e isto é para n ós bern mais importante, o romance introspectivo - o roma nce psicológico, que nasceu com a "Princesse de Cléves", de Madame Lafayete e teve seus grandes representantes no Século XIX em Dostolevsk e Stendhal : o exercicio psicologico, o oficio da análise em profundidade, o mergulho vertical no fundo das almas, às sondagens no mundo subterrâneo das· paixões huma nas. Nc, gênero t emos o "diário intimo", a "análise interior", o "retour sur soi", de Proust . . . e também o "monólogo interior", a "livre -as• sociação'\ a •·tuga onirica", de Joyce. Todos éles trouxera1n para a consciên– cia as Influências s ubtis do inconsciente, isto é, arran caram do sub-solo as ri• quezas e os reslduos ocultos ... As "Memórias Intimas", de Proust, fixaram o-– problema p sicológico do tempo, da memória involuntaria, da dissolução da per– sonalidade, das Intermitências do coração. Joyce de u-nos em "lJJysses", - que Waldo Frank comparou à "Divina Comédia" e Valery Larbaud considera a maior obra de nosso tempo, - n a t écnica freudiana do seu "monólogo Interior", o documentário pertubador de um fim de civilização. Segundo Charles Duff, se Freud provou a existência de uma fusão constante entre o sonho e a vlgUia, Proust a viveu e Joyce a demonstrou ex--perimentalmente. A obra de Proust é a sua mensagem à p osteridade, a mensagem da sua solidão e da sua infinita melan– colia. A de Joyce é um documento da desintegração do nosso tempo : é o quadro mais perturbador e impressionante do roma nce moderno. • • • Para Sainte-Beuve ("Causeriesde Lundi" - 2 - x - 850), os três elementos essenciais do romance eram : as personagens, a ação, o estilo. O senhor Alvaro Lins, no seu ensaio sobre a t écnica de Proust, discordando nté certo ponto dêsse esquem a, considera como elementos básicos do romance : a personagem, a ambiência, a ação. Excluiu deliberadamente o estilo, por não considerá-lo um elemento particular da a rte de ficção, mas da literatura em geral, ("Da t écnica do romance em Marcel Proust" - IV). Ao lado dos elementos básicos de Sainte-Beuve - os personagens, a ação e o estilo, como também ao lado do ambiente do Sr. Alvoro Lins, é pre– ciso levar em conta o a utor.

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