Revista da Academia Paraense de Letras 1953 (MARÇO V4 EX 5)
REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS Além do custo astronômico das despesas de campanha, as doenças dizi– mavam as tropas. O cólera, o paludismo, o beri-beri, matavam m ilhares de compatriotas, os quais sucumbiam longe dos seus, mandando aos entes bem amados, as suas derradeiras saudades. O acampamento era um inferno. Moscas e mosquitos em profusão, o o exalar das sentinas, o máu cheiro dos cadáveres de h omens e de cavalos ; os char cos provocando frieiras de cura demor ada, tudo concorria para amofinar os soldados. Oficiais e praças havia, que já estavam ai, há quatro anos, sem espe– rança de volta. E t odos no Brasil faziam uma id~ia de como seria a f igura de Solano Lopez, o "EI Supremo", - fisionomia naquele tempo ainda não divulgada, fazendo-o semelhante aos gigantes, Goliath ou Farraguz, papão aterrador, e de vorador de vidas. A verdade porém, é que Lopez II, tinha uma apresentação deveras ele– gante. Moreno, de estatura mediana, misto de índio guarani com espanhol, barba negra b em tratada, olhos grandes e brilhantes, mesmo bonito homem, tipo forte e gracioso, que se denunciava feroz e cruél nas suas tempestades de cólera. Era então inexorável. Duma vez o seu cunhado, o general Barrios, foi acusado pelos esp1oes intrigrantes, de ser pouco dedicado à causa do Ditador. Era um patriota de ser viços inestimáveis prestados em tôda a campanha. Barrios sabendo do desfavor com que estava ameaçado, correu m ais que depressa, a se avistar com o seu pa rente, para desfazer a infâmia. - "Retira-te, ingrato !" disse Lopez ao avistá-lo. Borrios s~iu dr: cnbeçn baixa, sendo preso e internado num campo de concentração, onde foi vilipendido até a m orte. Nos boulcvards de Paris, Solano conhecera uma viuva irlandeza, de nome Elisa Linch, esposa divorciada do sábio francez Quatrefages. E aqueles dois temperamentos ardentes e aventurosos se e ntenderam às mil maravilhas. Lopez era o pe rfeito tipo do "cabalero" ou seja do r icaço ispano-americano, que gast a as suas re ndas na capital francezas. Em fevereiro de 1868 os Paraguaios aban donaram a final, Humaitá, praça forte formidável, que chegara a acantonar 35 mil homens. A ação da esqu adra e dos assédios fez as fôrças inimigas se internarem mais para o norte. Mitre, chamado à sua pátria, onde havia ameaças de revolução, deixou o comando supremo a Caxias, que se prontificou a ence tar a invasão. Depois, a car n ificina de Tebiquarl, onde se encont raram cadáveres de prisioneiros insepultos pelo cl:ão e pelas fossas ; e logo a seguir, o combate de Tagl e eis senão quando o exército inteiro esbarra diante das imprevistas e intransponíveis de Pis ikiri. a Era a derrota. O Pisikiri era 'IPtn arroio que desaguava um terreno, j á de si, pantanoso, e por traz do qual, os paraguaios haviam construido uma linha d e defesa Infernal, por ter na sua frente um te rreno mole e inconsis te nte, e ladeado a leste pela Jagôa de Ipoá. o s chefes militares n ão encontraram solução para o avanço geral. A ofensiva seria fatalmente, o aniquilamento. A posição e ra insu stentável. O t empo urgia. A queda de Humaitá que parecia o fim da guerra , não era mais que o meio dela. Todo o exército acantonara num luga r péssimo e alagado. A retirada sob O fogo das fortificações seria a desmoralização. E O estacionamento continuava. Na barraca do gen eralíssimo olscutia-se o problema urgente . Noticias
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