Revista da Academia Paraense de Letras 1953 (MARÇO V4 EX 5)

4 REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS sexualismo, absorvente e febril, é invocado lnvariàvelmente para explicar tôdas as intenções, tõdas as idiosincrasias, tôdas as tendê ncias s ub-conscientes dos artis– tas. .Q assunto, sendo amplo e sedutor, tem se prestado a muitas experiências interessantes, é não se pode negar que a P sicanalise foi, nos últimos t empos, o processo cientifico que nos deu interpretações mais lógicas e mais razoáveis do fenômeno da criação artistica . De resto, desde que não se queira cair na ortodoxia poiconalls ta, que 6 olndn fonte de erros , o P s icannlioc pode nbrlr-nos ao esplrlto largos caminhos na Interpretação e compreensão da arte. Não co– nheço, por exemplo, obra mais palpitante de revelações sôbre Goethe do que o livro em que Theilbaber estudou o autor do "FAUSTO" cm roce do pslcanúllse. Tõdas essas teorias, porém, - mesmo a de Freud - procuram explicar as artes e os artistas sempre de um ponto de vis ta unila te ral e, portanto, falso porque a consideram do ângulo patológico. A arte seria sempre uma "doença"; o artista seria fatalmente um "doente". E ai estava o grande erro, que impedia a visão ecumenlca da arte e do artist:i, na plenitude dos seus dons, na alegria, na saúde, na fôrça daquele "estado de graça" que o autor do Werther" afirmava Isentar o homem de qualquer m al, colocando-o em harmonia consigo próprio e com o mundo exterior. • • • A Biotipologia, a Etoloi:la e a Noologla, socorrendo-se dos modernos re– cursos da P sicologia diferencial, e colocando o problema no plano da norma– .lldade, incontestavelmente nos permitem uma aproximação mais intima, fácil e .segura do autor e da obra, porque nos desvendam os segrédos da personalidade humana. o trabalho Interior da reflexão, para o critico, quando dispõe êle dos da– dos do pslcograma dos autores, se torna mais isento e agudo. o juizo reto e 0 racloclnlo simples, do critico armado de tais instrumentos de análise, conduzem, pela fria serenidade do métido cientifico, senão à explicação do fenômeno da criação artistlca, que é por difinição aleatoria, misterioso e enganador, na sua desconcertante complexidade, ao menos a compreensão e à aceitação da obra e do autor. Antigamente, os crlticos, apoiando-se na lição de Ribot, consideravam duas formas de imaginação criadora ; uma intuitiva (inconsciente), outra refle– xiva (consciente). No primeiro caso, o autor parte do tcdo para O pormenor, do geral para o ,particular ; no segundQ, pelo contrário, o caminho é inverso : 0 autor vai da parte para o todo, do particular para o geral. Mas O conhecimento desse fenômeno não era bastante para explicar tudo. Existe, ,iinda, além des– sas categorias pslcólogicas, muita coisa com que não sonhava nossa sã filosofia ... Porque, seja qual por a categoria psicológica da imaginação criadora, 0 roman– cista, pela magia d a sua arte, é quem nos desvenda os mistérios da alma hu– mana, do mundo interior das criaturas, aquela parte secreta e fechada que só pode ser conhecida através da confidência, no plano coloquial da confissão ... ou da Invenção literária. Ao definirmos inicialmente o romance, para estudar-lhe os problemas psicológicos, Incidimos sem dúvida num erro ; pensamos no romance en1 t êrmos de psicolog ia. Isto é , e,'.1caramo3 o romance _psicológico apenas e o romance é um mundo : dentro dele cabe tudo decerto - além do estudo da alma hu– mana seja-nos licito reconhecer. ' seria um grosseiro erro - porque um exame unilateral do problema - acreditar que só existe um tipo de romance. Há, muito pelo contrário, uma infinidade de caminhos à esc~lha d~ ~omancls ta. Segundo confessa :trico Ve– rlsslmo, cujo virtuosismo técnico O sitúa entre os nossos r oman-::istas mais lidos e admirados - o escritor , para fazer um romance, pode escolhe r, entre muitos outros, 08 seg uintes pontos de partida : a) __ uma tése, como é O caso de "Um rio Imita o Reno", de Viana Mo1>6:

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0