Revista da Academia Paraense de Letras 1953 (MARÇO V4 EX 5)

REV!STA DA AÓADEMIA PAnAENS~ bE LETRA$ de h óspedes do Rio de Janeiro, arrancado à vida pela mnls brutnl e trnlçoelrn de tõdns as moléstlns - a t lslcn - ceifeira Inclemente de existências juvenis _ êste belo e nlcnndorndo esplrito de moço, onde eram tão ardentes e reeundns as espe– ranças e tão docemente nlbados de poesias os sonhos da mocidade. Cnmerino Rocha mal se firmou na vida ; a morte não deu tempo a que se ncentunnse a eminente personalidade mornl desses verdes anos bafejados por um sopro viril de Inteligência e com um tão largo e nltldo descort~o das coisas, apai– xonando-se pelos seus Ideais como um crente pelos dógmas da sua religião e aman– do n vida pelo Indo belo. Galopou pnrn a morte a t ravés de um sonho que teve o seu triste e lúi;ubre desfi!cho na realidade esmagadora da morte. Nêase esplrlto viviam em constante e acirrado connlto a Ilusão e a ~erdnde, e quase sempre esta cedia lugar àquela. O sonhador repudiava on contáctos ásperos da realidade, e abraçava-se com o seu sonho pnrn ser feliz. Quem escreve estas breves linhas conheceu Camerlno Rocha poucos meses antes deatn hora cm que traça, às preesns, ferido pela mágun dn pêrda Irreparável, n notlcln de seu falecimento, e !oi um doe que o nmaram sinceramente. Era um torturado e um sofredor; tlnhn n revolta permanente contrn na mi– sérias do mundo, e abroquelnva-se delas numn Indiferença que constratava com o Impero generoso e singular com que ncudln em defesa de seus Ideais, quando os vln orendldos. AI está o artigo em que lavrou, jà doente, mas com a m llo firme nlndn o seu arroJndo protesto de solldnrlednde com os vencidos de 14 de novembro, concitando o povo n se armar contra um exército que recuava, nrttgo em que êle poz tõda n veetnencla da sua alma revoltada contra o malogro da ten tativa generosa, que a traição transformou numa cilada. Mlnnvn-o já n enrermldnde moral a que sucumbiu e bem se pode dizer que, depola daquela época, Cnmerino Rocha se confinou numa obscuridnde que em o prenúncio dn grande e eterna mudez. Umn vez mais voltou à lmprensn pnra de– plorar· a morte de Velgn Cabral, n cujos funerais assistira. Surgiu nn "Folha," Inesperadamente, por umas dez horas da noite, abotoado •na sua sobrecasaca preta, pálido, comovido, resplrnndo mal e queixando-se de grande cnnsaço. Alndn nsslm, núo qulz fugir no dever afetuoso de trlbutnr eun última homenagem de, saudade no lntemerato cnmpeão do nosso pntrlotlsmo n o Amapã. Dnl em diante, poucas vezes saln. Vivia em casa, sonhando, acordado, culti– vando o prazer das suas leituras prediletas, vitima, por último, dum grande nbntl– mento espiritual. Perdera a voz, so!rln resignado os últimos embates da moléstia • terrlvel. A sua última esperança fundnvn-se n a viagem que empreendera há três meses. Dizia que sentia em si um fundo de vitalidade Intente, que espernvn um melo próplclo pnrn se desenvolver. Alndn erá a Ilusão que o nnlmnva. A bordo do navio que o conduziu, teve, porém, n antevlsão da morte. Quis desembarcar pnra morrer junto dos seus, mns o triste destino o impelia para longe e ao vê-lo pnrtlr, no dar-lhe o abraço de despedida, snblnmos que era n últ ima vez que o es– t reltavnmos Junto no cornçúo" Por sua vez, o " Correio da Manhã", com n sua autoridade de maior órgl\o dn Imprensa nacional ,que de !nto rol e alndn é, pela Independência em que se mantém, assim se manifestou sõbre o desaparecimento de Camerino Rochn : "Numa Idade de sonho e Ilusões, da plen a florescênc1n de um talento mn– rnvllhoso e delicado, que lmpreBSlonnva pela sua sutileza e elegãncln fldalgn, ncnba do finar-ao, t isico dn laringe, como uma moça romântica de 1830, o belo poet a nor– tista que ee chnmnvn Camerino Rocha. A evocação dêste nome nllo serão muitos talvez os que se recordem da sun pessoa encnniadorn e amiga, flanando pela rua do Ouvidor, nnquêle andnr bnm– boleantc e cadenciado que tanto o cnrncterlzavn, metido num temo paletó saco e 06tentnndo uma cartola de abas largas que lhe dava a aparência orlgtnnl de um personagem de Garvanl, snldo nnquêle Instante da pé.glnn de uma velha estampa. Mas não hã um único homem de letras que se não lembre de Cnmerino Rocha com saudade e com ternura. o seu esplrlto, em eterno devaneio, núo t inha o menor laivo de perversidade ou Inveja : vivia apenas pnrn a Arte, que sempre adorou com louvável constância. Era um Intelectual no mais belo sentido da palavra, sem lntolernnclns de eacolne e sem preconceitos de "coterle". •

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