Revista da Academia Paraense de Letras 1953 (MARÇO V4 EX 5)

72 REVlSTA DA AOADEMlA PARAENSÉ DE LÊ'rRAS ardorosos e entusiastas propagandista dn eleição senatorial de La uro Sodré n a me– morável campanha feita no Rio de J nnelro pela mocidade, acadêm ica, tendo sido Vitorioso o eminente democrata co.nterr1\nco em contrnposlçlio nos consagrados re– publicanos Lopes Trovão e Andrade F igueira. No t eatro "Polltcama", do RI_'.', cm grande sessão clvlca, Camerlno foi aclamado orador oficial da mocidade academlcn, tendo um notável publicista português feito elogiosas referências à peça orató- ria do jovem paraenae no livro Brasil Mental". . Nl!ste Estado, sempre se batendo em pró! da causa defendida por Lauro Sodró Camerino dlrli:tlu o "Pa rnensc", jornal de propriedade de Veiga Cabral, o Cabral- zlnho, de quem se tomou grande amigo. · Na capital da República, onde cursava o último ano de direito, abandon ou a Academia para de todo se consagrar à vida da Imprensa, ocupando o lugar d e se– cretário da "Noticia" e mais tarde da "Gazeta d e Noticias". Colaborou na "Folha do Norte", Jornal que publicou o seu veemente artigo "O desastre da dignidade humana", que lhe valeu ameaça de prisão pela pollcla chefiada pelo desembargador Thomaz Ribeiro. Ao lado de Trajano Chacon, notavcl escritor pernambucano, dirigiu a rea– vista "Atenelda". Tomava parte assldua nas tertullas Jlterúrlno e a rtlatlcns nna quais fulgiam e rebrilhavam as Inteligências de Coêlho Neto, Olavo Bllac, Luiz Edmundo, João Luso, Ellslo de Carvalho, Malagultl e outros. Neto de um h omem rico, que o amava e o adorava, Csmerino Rocha !oi um perdulário da vida, não apenas vivendo-a mas esbanjando-a, com a mesma facili– dade espantosa com que esbanjava o dinheiro do seu avô. Primava pela elegância do traJe, caprichava nos perfumes sofria t ranquilo que se pode cham~r a virtude de saber comer, realizando de quando em qu ando ba nquestes suntuosos, nos quais se viam oa melhores vinhos e os mala caros licores, sem !alar nas flnlsslmns Iguarias. Contou-me Mecenas Rocha que certa vez Cumer lno resolveu aprofundar os seus conhecimentos de Matemática, contrata ndo pnra lecionar o professor Alcldea Bahia, que militou na Imprensa do Pará, sendo membro da Academia Amazonense de Letras. Quando da primeira nula esta terminada, convidou o mestre para ~m pe– queno lanch e. O professor ficou boqu:nberto quando sentou à mesa, caprichosa– mente pOsta, com empregado para servir, enver;;nndo casacas. No dia seguinte nova aula e novo lanche, lanche que valia mais do que um jantar principesco. Face a Isso, encabulado com tanta gentileza, fidalguia e !UX!), o pro!cBBor não mala apareceu. .. . .. Camerlno Rocha morreu aos 26 anos de Idade, na época doirada doa sonhos mais belos e dos ideais mais sólidos. Vitimou-o a tuberculose, que o t ransfigurou por completo, reduzindo aos poucos sua beleza helênica, e seu por te grego. Fez um percurso meticuloso no seu corpo, roubando-lhe por fim a própria voz, pois a tisica t ambém procurou a sua laringe. NoBSO eminente confrade Manoel Loba to, em magnifica cronica publicada em agOato de 1941 na "Folha do Norte", conta O seguinte tato, ocorrido numa t a rde de chuva, de uma humidade aborrecida e doentia. Diz êle : "Camerlno chegou à Porta, estendeu um olhar Imensamente t riste para os lados, e agitando as pernas nervosamente, sacudindo os braços, retirando os cabelos negros e lusld los de sôbre a larga fronte Inteligente, murmurou-me esta pergunta : "Tens medo de morrer?" - E medo horrtvel - "Entretanto, respondeu Camerlno, nflo devias ser aBBlm. 86 se poupa a vida quando Já se a sen te quasl ao tem10. Enquanto me Julgu ei um miliontirio dela , as ve,as tumclatas, o cére:,r .l sadio, foi o maior perdultirío que já houve neste mundo. P a ra esbanjá-la n üo me bastanun os dias, servia-me tam– bém das n oites. Mas vê lá, tão efemero é tudo que eu não cheguei a me aper– ceber de que haJa g0so nêste mundo... " E como Manoel Lobato Julgasse que Camerlno nflo tinha razão para deses– perar, êle respondeu : "Tenho a morte aqui dentro de mim. Blnto-a." Ainda é Manoel Lobato quem afirma na crônica a que m e refiro : "Tudo n a personalidade de Camerlno era consequência do cérebro; só êste predominava. A arte em geral !azia parte do seu corpo". Em 20 de agôsto de 1914, a "Folha do Nort e" publicava a seguinte noticia 110bre a morte de Camerino Rocha, que passarei a ler para que os seus uustres colegas da Academia julguem melhor do valor do homem que n êste momento elo- 110 : "Auteontem, às ll ;30 horas da noite, apagou-se pam sempre, em uma casa

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