Revista da Academia Paraense de Letras 1953 (MARÇO V4 EX 5)

• 'í REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS e m e emperra os movimentos - com aquêle gesto harmônico e elegan te com que os pa trlclos de Roma Imperial a rrepanhavnm as túnicas, quando s ubiam as esca- . darias nobres do Paió.cio de Ccs nr"... Foi assim que Terên cio Porto esclnreceu os motivos por que escolhia o nome de Camerlno Rocha p ara pa trono de sua cadeira. Mais tarde, segundo conseg\11 apurar cm vó.r las fontes, n a segunda ou terceira fase de nosso Sllogeu, o nome de Camerlno Rocha foi suprimido e cu conoidero que foi praticada uma Injustiça, tal– vez ainda em t empo de repa rarmos. Cam erlno Rocha, :>araP.nse de nascimento, foi uma das mais vigorosas culturas que a Amazônia possuiu e uma Inteligência privi– legiada a s erviço do Belo, do Amor e das Artes nas su11s mais variadas e fulgurant es mod11lldadcs e aspéctos. Jo!io Lus o, no seu 11vro "Elogios", assim se manifestou sôbre Carmerlno Rocha: "Era, sem dúvld11, um admirável talento o seu, pela flnurla e superioridade da observação, pela riqueza e fulgurância da express!io. A oua maneira d e analizar um assunto ou um sentimento, examinar um caso ou uma paixão, encant11va, prend:a, d esper tava um Interesse sempre novo e sem– pre Intenso; os seus processos de definir uma Idéia ou de retratar uma figura tl– nlrnm sempre o poder de cham a r u si os outros esplrltos, transmitir-lhes, Inteira e pura, a comoção Inspiradora , obrigá-los a ver como êle via e Julgnr como êle JUl– ge.va. A sua critica lmpU!lila-se, o seu es t ilo arrastava; o prazer de ouvir custava· fntalmcnte nos seus nmli::os a con fissão de o admira r; era como se êle possulssil o lr– reslstlvel condão de cativar, domin ar , Impera r, êle soslnilo, onde quer que a sua voz se er guesse e a sua Inteligência ur:nasse t enda de combate". O depelmento n ão pode ser mais valioso, e aparece como a afirmativa ca– tegórica de que niguém como c amcrino sa bia dizer as coisas, lmterpretá-las e sentl– lns, deGcrevendo um quadro com o primor de um est eta , retra tando uma tragédia com as tintas de emoçiio Insuperável, aviva ndo as cores de um drama com a Im– ponência de um predestinado, emoldura ndo quadros felizes com o sentimento de um poeta divino, f azendo os sorrisos se transformarem em preces e as esperanças em venturas. O brilhante prosalsta Ellslo de c a rvalho, no seu notavel livre "Flve ó Clock", disse o seguinte a respeito de Cam erlno Rocha : "Era, no melhor sentido da pala– vra, um aristocra t a, um nobre à m an eira de Renan e Ntstzsche, sempre revoltado contra na Idéias u t ilitárias e o plebeismo da nossa era, homem com o sentimento do Pathos d a d!stã nc!n, um grego antigo, em suma, que procura va reduzir tudo na vida a maneiras da a rte. Na tureza profundamente sensual, mas dêsse sensualismo nr– tlstlco dos Italia nos da Renascença e com êsse atlclsmo doce e simpático das épocas • cansadas, dotado de uma sen slb l11dade requin tada e de um espirita penetrante, Ca– m erlno Rocha tinh a a psicose do estilo em tudo, na a r t e como na vida, e dizia sem– pre, repetindo não sei que a utor que os deuses enviara m os homens ao mundo para viverem e fala rem com elegânclo.. De fato, êle foi um conversador admirável, um nrtlstn. fasclnante da palavra f alada, que n êle era pura, sem felezas e mazelas, po– lida e cultn, m usical e alada . Não ama va escrever, porque, ainda dizia êle, o n e– cessó.rlo seria u sar uma llngu a que dêsse, por exemplo, lmpress!io de um rálo de sol perfumando-se numa rosa". Gonzaga Duque, em rutilante crônica de saudade, afirma que Camerlno Ro– cha conservava o preceito Inglês de tudo ser feito sem acusar a menor batxeza. O meu prezado amigo e m estre, e nosso Ilustre confrade P aulo Maranhão, por várias vezes m e t em afirmado que Camerlno Rocha era um homem excepcional em cultura , em lntellgêncla, em elegância e fidalguia. Acentua que quando Ca– mcrino Rocha d iscursava ou pa lestr a va ninguém mais tinha coragem de se mani– festar, porque êlc supla ntava , d eslumbrando. Paulo Maranhão Já me disse que, depois da morte de Camerlno, n ão viu ninguém que o Igualasse em oratorln, pa– lestra ou na conversação mais simples. • * * Camerlno Rocha n asceu n est a capital a 26 de Julho de 1871. Aos oito anos de Idade, em Paris, em compa nhia dos avós, palestrava nP. própria Jlngua de Ra– cin e, provoca ndo a admiração e a surprezo. a todos. E ao& 20 anos, conhecia mala o movimen to a rtlstlco e literá rio da França do que do próprio Brasil. Na sua biblio– teca , revelou-m e o seu Irm ão e n osso brilha n t e confrade Mecenas Rocha, tôdas as escolas francezas s e alin havam cm encadernações 1'1.-tuosas, Impressionantes m esmo. Conhecedor profundo do la tim clássico e de numerosas Jlngu as vivas, aos 1 3 11nos de idade Já s e credenciava como eloquente orndor, tendo sido um _dos mais

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