Revista da Academia Paraense de Letras 1953 (MARÇO V4 EX 5)

r REVISTA DÁ AC~EMÍA PARAENSE DE LETRAS CAMERINO ROCHA Gcorgcnor Franco No dia 2 de dezembro de 1951, a Academia Pnraensc de Letras renllzou a sua décima segunda sessão ordinária do ano. No quarto de hora literário, ocupou o tribuna do Sllogeu o nosso companheiro Gcorgenor Franco, que ocupa a catedra n. 38, patrocina– da por Tito Franco de Almeida, pronunciando a seguinte palestra sô– bre a vida e a personalidade de Camcrlno Rocha, brilhante vulto da lntele<:tualidade amazônica. "Senhores acadêmicos : Falar em Camerlno Rocha é reviver uma épocn de esplendores e de imponên– cia Intelectual. quando o eeplrlto, no Brasil e no mundo, tinha o valor das colsns reais e constltula expressão de caráter e manifestação de virtude. Falar em Camertno é reviver uma época em que a º Poesla empolgava, a Inte– ligência significava valor para o desempenho de cargo de responsabilidade, época 1neaqueclvel, por certo. na qual a mediocridade jamais cometia a loucura ou a le– viandade de se sobrepujar à cultura, ao talento e à Beleza da Arte. Falar em Camerlno Rocha é reviver uma época de sonhos, de poesia e de elo– quência. falada e escrita. Época em que o espirita produzia para o encanto das ol– mas, paro retrotar com aa tlntas da verdade e não do escandalo, os dramas d e t ô– das as vidas, a angustia humilhante de destinos subjugados à maldade doe pode– rosos - e Castro Alves é o exemplo lmpereclvel. ll:poca em que o espirita era espirita na expressão mala elevada do Têrmo e sempre estava a serviço do Belo, do Nobre, do Superior, do Bem e da Arte. Época em que o espirita brllhava, repelindo to– das as Investidas da mediocridade e da devassldi).o, empolgando almas, corações, sentimentos. Falar em Camertno Rocha é reviver uma época em que poesia e espirita fa– ziam parte da vida, eram seu elemento aubstilnclal, ~.tuando em todos os momen– tos decisivos da nacionalidade, não sendo mercantis uem lntereaselraa. mas hones– tos e altivos. Na fase lnlci-al da Academia Paraenae de Letras O nome de Camerlno Rochn foi dado a uma das poltronas. a ocupada por Terêncio Porto, conforme se depre– ende do seguinte artigo publicado num doe jornais desta capital, anos atrás : "Por motivos Inteiramente alheios li minha -,ontnde, n ão compareci à s es– ll!io que a Academia Paraense de Letras realizou a fim de escolher os patronos doo seus quarenta membros. BeJa-me permitido registrar aqui o nome que escolhi para patrono e mais ou menos Justl!lcar a causa desaa escolho.. Lembrei-me de Camerlno Rocha - o Insigne escritor que passou tôda a curta exlatêncla a dar vibrações humanas à sua arte divina. Camerino evoca, por vezes. aquêle inolvidá vel tipo de Fradique Mendes que Eça atirou. num gesto de i;ênio, paro a Imortalidade. Fradique. n a equação humana em que o con 6 elhclro Acácio entra como ele– mento 11egut1vo, é o termo lJTincipal. A prosa de Camerlno Rocha era uma prosa requintada, de um ritimo nobre, ondeante e macio, como um manto de purpura. E a sua emoção, assim vestida, encantava e atraia como as patriclas da de– cadência romana que passam, num andar ollmplco de deusas, pelos versos de Catulo. Era um Petrônlo que traduzia os seus pensam<:utos naquêle mesmo rltlmo, que enche de música divina os perlodoa doo Goncourts. Não se pense que eu pretenda ver pontos de contacto entre a minha prosn charro e éspessa e a prosa sonora dêle. Escolhendo-o para patrono. tinha apenas por tlm lembrá-lo a todo o momen– to para que, ao pegar da pena, doravante, vá ganhando um pouco de bom gôs~o e IObrleàaàe, llbertanào-me assim da escura e pesada ma téria que me perturba a visão

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